Vadim Repin, empunhando seu raro Stradivarius de 1733, de um volume de som enorme e timbres formidáveis, atraiu olhos e ouvidos o tempo todo. Já Pahud parecia quase se dissolver no conjunto da Orquestra de Potsdam, tamanha a interação entre eles. Por quê?
São duas situações diferentes. Em ambas as noites, fluiu música de qualidade. No caso de Potsdam/Pahud, a batuta de Trevor Pinnock foi decisiva para comandar com finesse um grupo extraordinário de músicos, irmanados do mesmo ideal e com estratosféricas habilidades. A ponto de quase eclipsar o solista.
Já com Repin e a Orquestra Sinfônica Estatal de Istambul um fato ficou claro desde a simplória peça de caráter folclórico inicial assinada pelo compositor turco Nevit Kodalli (1924-2009): quando há desnível entre a excelência do solista e a sonoridade da orquestra, o interesse do concerto inteiro desloca-se naturalmente apenas para a peça concertante. No fim da primeira parte, tinha-se a impressão de que a mágica da música já se dera com Repin e seu Stradivarius.
Aliás, em certo momento do concerto de Sibelius - peça deslumbrante pelas altíssimas exigências técnicas que requer do solista e de uma qualidade de invenção rara na literatura concertante do século 20, que pede muito da integração entre solista e orquestra -, Repin chegou a indicar com o arco o tempo correto da passagem, chamando a orquestra para segui-lo.
A precisão cirúrgica de Repin, aliada a uma sensibilidade de exceção, brilhou como nunca no Allegro moderato inicial, com seu primeiro tema memorável sobre o trêmolo das cordas e uma impressionante execução da primeira cadência, logo na abertura do concerto. Foi a senha para uma interpretação ao mesmo tempo apaixonada e irretocável, sobretudo no dançante Allegro final.
Isso não significa que a orquestra turca seja ruim. Ao contrário, tem bons instrumentistas. Falta-lhe, entretanto, o refinamento que sua parte no concerto de Sibelius exige. Se enquanto esteve em cena Repin dominou a cena de modo avassalador, as deficiências se avolumaram na execução da Sétima Sinfonia de Antonin Dvorak. Não por acaso, o melhor momento do grupo liderado por Milan Turkovic foi justamente o Scherzo: vivace, de cores checas. A orquestra tem a tendência de tocar sempre mais forte do que o necessário. Isso torna a execução mais linear, os contrastes são desbastados.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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