Memória Titulo MEMÓRIA
Nos primórdios das estradas de rodagem
Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
07/06/2017 | 07:00
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“Devemos ver em Rudge Ramos o continuador da obra do Vergueiro.”
Dos anais do 1º Congresso Paulista de Estrada de Rodagem, junho, 1917.

A Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Estado preserva e disponibiliza os anais do 1º Congresso Paulista de Estradas de Rodagem. O evento é de 1917. Reuniu a nata política municipal, com representação da maioria dos municípios de então, além de técnicos e estudiosos do assunto. E o congresso encerrou-se exatamente há um século: na quinta-feira, 7 de junho de 1917.

Os jornais e revistas da época – entre elas <CF160>A Cigarra</CF>, maravilhosa – abriram enorme espaço àquele congresso. Taquígrafos registraram todos os discursos, sessões e debates. A leitura deste material, 100 anos depois, deixa claro que homens como Washington Luiz, então prefeito de São Paulo, acreditavam que “governar era abrir estradas”, bordão que seria adotado anos depois por ele próprio, em outras instâncias do poder.

O slogan do congresso de 1917, no entanto, era outro: ‘Via Vita’. Ou: ‘O Caminho É a Vida’.

Ninguém registrou, nos anais, diretamente, que há 100 anos começava a ser ofuscado o transporte ferroviário. Mas algumas citações deixam isso claro: “E a estrada de rodagem, outrora o elemento essencial dos transportes, depois de passar a fase de auxiliar das vias férreas e das navegáveis, surge novamente como fator decisivo na solução do problema dos transportes a grande distância”, conforme assinalou Sousa Reis, integrante de uma das comissões relatoras, no discurso de encerramento do congresso hoje centenário.

O CARRO DE BOI

O que se atacava, de frente, era o chamado veículo de eixo móvel, o carro de boi: “Estamos tratando de fazer boas estradas e não podemos conservar as boas estradas sem eliminarmos o carro de boi”, conforme assertiva do secretário da Agricultura, Cândido Motta.

EM DROPES

Do riquíssimo material produzido naquela virada de maio para junho de 1917, é possível assinalar algumas notas curiosas e elucidativas ao tema:

Definida em dez metros a faixa de recuo dos terrenos estaduais destinados à passagem de estradas.

Proibida a plantação de bambus e árvores sombrias como vedo das propriedades marginais.

Necessidade de regulamentar a lei de 15 de julho de 1915, a fim de poderem os municípios utilizar-se dos serviços dos sentenciados recolhidos às cadeias locais.

Aconselhado às prefeituras o emprego de marcos dos quilômetros nas estradas, bem como de placas orientadoras idênticas às adotadas nas estradas do município da Capital.

Que o dia 31 de maio seja, nas escolas públicas, consagrado às estradas de rodagem – pois o congresso foi aberto neste dia.

Aprovada menção especial ao Dr. Arthur Rudge Ramos, pela sua dedicação à causa das boas estradas de rodagem em São Paulo.

Fundada a Associação das Estradas de Rodagem, a princípio com 375 associados.

Definir Campinas para sediar o 2º Congresso Paulista de Estradas de Rodagem.

EPÍLOGO

Por fim, em defesa da estrada de rodagem, o mesmo Sousa Reis declara, em discurso: “Sem a rigidez do material rolante das vias férreas, o novo veículo adapta-se à estrada antiga, penetra, sem velocidade notável, é fato, mas vence curvas de fracos ralos, galga fortes rampas, desce pendores com segurança”.

Sousa Reis referia-se ao novo xodó daquele início de século, o automóvel, até então totalmente importado.

Timidamente, os jornais traziam as primeiras seções dedicadas ao automóvel, semente dos atuais suplementos automotivos. Entre os anúncios, o caminhão Berlict, o automóvel Renault. Os locomóveis Marshall e Jackson, o belíssimo automóvel Overland Willys para sete passageiros, e marcas que se mantêm no topo, 100 anos depois: Chevrolet, Fiat e – por que não? – o luxuosíssimo Buik da General Motors.


RUDGE RAMOS (1875-1941).

Depois de reformar o
Caminho do Mar, com
o auxílio de mão de obra carcerária, vem morar em
chácara do bairro dos Meninos, atual Rudge Ramos, na divisa
com o Taboão


Diário há 30 anos

Domingo, 7 de junho de 1987 – ano 30, edição nº 6462

Manchete – O escândalo do DAE em São Caetano: bens de ex-chefe de compras aumentam suspeitas
Reportagem: Eduardo Borga.

Grande ABC – Os problemas da poluição visual urbana.

Saúde – Doentes renais correm risco de ficar sem tratamento.


Em 7 de junho de...

1917 – A guerra. Do noticiário do Estadão: a Tribuna Italiana comenta a entrada do Brasil na guerra.

Enrico Caruso, tenor italiano, depois de temporada em São Paulo, viaja de trem a Santos, cruzando o Grande ABC. Em Santos embarca em navio para apresentações na Argentina.

1927 – Começa a Semana Eucarística de Ribeirão Pires. A iniciativa é da Irmandade do Santíssimo Sacramento, presidida por Antonio Arruda. Padre Carlo Porrini é o vigário de Ribeirão.

1967 – Falece o médico Victor Mayerá Júnior, antigo de Santo André e colaborador do semanário News Seller, hoje Diário.


Santos do Dia

Ana de S. Bartolomeu
Antonio Gianelli
Pedro de Córdova


Municípios Brasileiros

Celebram aniversários em 7 de junho:

Em Goiás, Anicuns
No Piauí, Dom Inocêncio

No Rio Grande do Sul, Erval Grande e Vera Cruz
Na Bahia, Jacaraci

Em Pernambuco, Santa Maria da Boa Vista
Em Alagoas, São Miguel dos Milagres

Fonte: IBGE
 




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