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Mulher dá à luz em corredor de hospital municipal
Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
31/03/2004 | 21:17
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A costureira Mariângela Alencar da Ressureição, 19 anos, teve sua primeira filha em pé, em um corredor no térreo do CHM (Centro Hospitalar Municipal) de Santo André. O hospital é considerado referência em partos de alto risco.

A garota deu entrada no CHM com dor, dilatação e a bolsa estourada às 12h30 de segunda-feira. Não havia leito e Mariângela passou boa parte da tarde sentada, gemendo, em um banco. Kauane, como foi registrada, nasceu de parto normal, por volta das 16h, em meio ao entra-e-sai de pacientes, médicos e atendentes. Segundo testemunhas, o bebê teria sido amparado por um ortopedista.

A Prefeitura não se manifestou sobre o assunto, mas o Conselho Municipal de Saúde vai pedir que se instaure um processo administrativo no hospital.

“Chegamos ao hospital por volta das 12h30, já com a bolsa rompida. Ela (Mariângela) mordia os lábios de dor. Fizeram exame de toque e ouviram o coração do bebê. Em seguida, mandaram ela aguardar por uma vaga sentada em um banco no corredor”, disse a tia, Ivone Maria Alencar, que também é costureira e mora no Jardim Sorocaba, em Santo André.

Segundo Ivone, apenas duas horas e meia depois sua sobrinha foi chamada para internação. “Arrumaram uma maca, onde ela deitou por menos de cinco minutos, quando veio uma enfermeira e disse que precisava da maca. Ela (Mariângela) não conseguia levantar, ajudei e só depois arrumaram uma cadeira de rodas.”

Ainda de acordo com a tia, sem suportar a dor e o incômodo de estar sentada, Mariângela levantou para tentar tirar a saia de jeans que usava. “De repente, abriu uma poça de sangue no chão e o bebê começou a nascer. Ele só ficou preso pela calcinha da mãe. Até que apareceu um médico diante da gritaria”, contou Ivone.

Duas pacientes, que não quiseram se identificar, estavam no local e confirmaram a versão da tia de Mariângela. “Ela lavou de sangue o corredor. Um médico ortopedista correu para acudir o bebê”, contou uma delas.

A outra informou ainda que o parto aconteceu em frente à sala de gesso, próxima da recepção. “Foi uma gritaria. Todo mundo pedia ajuda. Foi uma coisa que nunca tinha visto antes”, afirmou uma das pacientes.

A tia de Mariângela disse que o bebê, após ser colocado no peito da mãe, foi levado rapidamente para outro local. “Colocaram a minha sobrinha na cadeira de rodas, que deixou um rastro de sangue pelo caminho até chegar no elevador”, afirmou Ivone.

Ainda de acordo com a tia, Mariângela é orfã. Há dois meses, chegou de Salvador, na Bahia, onde morava com a avó e irmã de Ivone. “Somos de família humilde. Minha sobrinha não tem berço, carrinho de bebê ou fraldas para o bebê”, disse.

Alta – Nesta quarta, mãe e filha teriam alta, mas só seriam liberadas mediante acompanhante, após as 15h, segundo informação passada por telefone ao Diário por volta das 13h.

No entanto, isso não ocorreu. Familiares chegaram ao hospital às 15h15, mas às 16h45 deixaram o local, sem a mãe e a filha. “Não me informaram o motivo direito. Disseram que a criança teria de fazer o exame do pezinho. Não souberam dizer quando minha sobrinha vai sair”, disse a tia de Mariângela.

Pela manhã, um guarda civil municipal circulava próximo ao quarto 204, onde Mariângela ocupava o leito de número 312, no segundo andar da maternidade. À tarde, segundo Ivone, três guardas faziam a escolta do quarto.

Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura de Santo André informou por volta das 18h, ninguém no hospital foi localizado para falar sobre o caso. O Diário procurou pelo departamento às 17h.

A denúncia foi apresentada por conselheiros para o secretário de Saúde, Michel Mindriz, e para a diretora do Centro Hospitalar, Noemia Conceição Gil, na terça à noite, no auditório da Câmara, durante reunião ordinária mensal do Conselho Municipal de Saúde. “A Noemia não quis comentar o assunto porque disse que se tratava apenas de um informe. Na verdade, era uma denúncia, e grave”, afirmou José Carlos Taverna, um dos integrantes do Conselho.




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