Cultura & Lazer Titulo
Mostra em Curitiba reúne pintores franceses
Do Diário do Grande ABC
10/02/1999 | 15:39
Compartilhar notícia

ouça este conteúdo

Protegida pela montanha Sainte Victoire, pontilhada de casas provençais e tradicionais jardins franceses, Aix-en-Provence é uma paisagem única na França. Foi a inspiraçao de grandes escritores e pintores, como Guigou, Stendhal, Mistral, Zola e Cézanne, que pintou cerca de 70 telas da montanha Sainte Victoire. A fascinaçao da paisagem dessa regiao está na raiz do impressionismo francês e é o mote para a exposiçao "Luzes e Cores da Provença", aberta esta semana na Casa Andrade Muricy, em Curitiba (Alameda Dr. Muricy, 915, tel. 041-321-4723).

Sao 56 obras de 36 artistas, incluindo duas preciosidades: "Nature Morte aux Pommes et aux Amandes" (Natureza-Morta com Maças e Amêndoas), de Auguste Renoir (1841-1919) e "Les Baigneuses" (As Banhistas), de Paul Cézanne (1839-1906).

Curador - Cézanne nao poderia realmente estar de fora, já que é natural de Aix-en-Provence e toda sua obra está umbilicalmente ligada àquela terra. "Nosso museu nao tem um acervo extraordinário de Cézanne, já que a maior parte de sua obra está dividida entre o Musée D'Orsay, o Philadelphia Museum e o Metropolitan Museum de Nova York", disse o curador da mostra e conservador-chefe do Museu Granet, de Aix-en-Provence, Denis Coutagne.

Ainda assim, a tela "As Banhistas", pintado em 1896, é uma obra fora do comum do pintor, à altura de "Grandes Baigneuses", que está na National Gallery de Londres. Coutagne diz que exiostem mais de uma centena de obras do artista com essa temática, o que reforça sua obsessao em transmutar a natureza e os temas estáticos. Deixava- se conduzir pelo modelo, com a intençao de chegar a um conjunto de massas de cor. Nao por acaso, Picasso retomou suas banhistas e Matisse revisitou suas maças.

Já um Renoir é sempre um Renoir (o Masp tem 12 óleos dele). Um deles, "Banhista Enxugando a Perna Direita", vale cerca de US$ 20 milhoes. A tela exposta em Curitiba ilustra um pouco mais a tese vital do filho de alfaiate: "Eu habito o sol." A luz e a cor sao o centro de sua arte, mas a natureza-morta que está em Curitiba reafirma outra de suas verdades: "O preto é uma cor importantíssima; talvez a mais importante".

Segundo Coutagne, a mostra foi montada visando fazer a relaçao entre a regiao e sua influência pictórica nos artistas, o que nao significa necessariamente que haja uma busca da representaçao realista nos quadros. Eles vieram de diversos museus franceses: Nantes, Bordeaux, Toulouse, Troyes, Cagnes-sur-Mer, Saint-Tropez, Marseille, Alençon e Paris.

A mostra de Curitiba reúne ainda nomes de peso do período, como Auguste Chabaud (1882-1955), que tem quatro de suas telas expostas (o maior número da exposiçao): "Graveson" (1910), "Les Jouets" (Os Brinquedos, de 1937), "La Gitane" (A Cigana, sem data) e "Le Tirailleur Tunisien" (O Caçador Tunisiano). "Ele veio de Paris para a Provença, pertencia ao fauvismo, mas é na identificaçao com a técnica de cor que ele integra a mostra", diz Coutagne.

Chabaud está num dos blocos da exposiçao, os "Fauves da Provença", com Charles Camoin (1879-1909), Pierre Girieud (1876- 1948), Alfred Lombard (1884-1973), René Seyssaud (1867-1952) e Louis-Mathieu Verdilhan (1875-1928).

Os outros dois blocos da mostra sao "Os Naturalistas" (precursores do movimento, que tinham como patronos Émile Zola e Paul Alexis), representados por Vicent Courdouan, Édouard Crémiex, Achille Emperraire, Jean-Baptiste Olive, Luc Raphaël Ponson, Joseph Ravaisou e Adolphe Monticelli. O bloco de Renoir e Cézanne está reunido no tema "A Seduçao do Midi", nos últimos anos do século 19, e tem, além dos dois expoentes, Albert André, Pierre Bonnard, Raoul Dufy, Henry Manguin, Albert Marquet, Paul Signac e Louis Valeta.

Boa parte desses artistas estava em exposiçao em 1874 em Paris, numa mostra coletiva, que levou o crítico Louis Lerouy a praguejar: "Selvagens obstinados, por preguiça ou incapacidade, nao querem terminar seus quadros". E afirmou: "Contentam-se com uns borroes que representam suas impressoes". Encerrou, taxativo: "Farsantes! Impressionistas!" E, assim, acabou batizando a nova tendência.

A Casa Andrade Muricy foi inaugurada no ano passado em Curitiba com a exposiçao "American Grafitti", vigorosa mostra que abrangia o período mais efervescente da pop art e da arte de rua. Desde entao, tem-se convertido no mais importante espaço de exposiçoes internacionais da capital paranaense. É uma edificaçao do começo do século, tombada em 1977 pelo patrimônio histórico. Recuperada, conta com 912 metros quadrados de área disponível para exposiçoes e já trouxe, entre outros, a arte cinética de Rafael Soto.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;