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Traumas da explosão ainda assombram moradores da Vila Pires
Evandro Enoshita
Diário do Grande ABC
02/02/2010 | 07:47
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O som de fogos de artifício é o pior pesadelo para os moradores da Vila Pires, em Santo André, que tiveram as suas vidas e casas afetadas pela explosão da loja de fogos Pipas e Cia, em 24 de setembro. Mais de quatro meses depois do acidente, que resultou na morte de duas pessoas, eles ainda guardam na memória os instantes de terror que se seguiram à explosão.

O metalúrgico aposentado Expedito Boiani, 65 anos, estava no portão da sua casa no momento em que aconteceu a explosão, e acabou sendo lançado para o meio da rua pela onda de choque.

Desde então, ele não consegue dormir direito. As imagens do acidente aparecem como flashes em sua memória. "Ainda tenho muitos pesadelos, tanto que no Ano-Novo eu fugi da queima de fogos. Antes eu gostava, agora nem pela televisão eu consigo assistir", disse.

A chegada do ano de 2010 foi um momento de tristeza para a família da funcionária pública Rosimar Montanari, 41. "Foi muito triste. Toda a família se reuniu no terreno em que ficava a nossa casa e começou a chorar. Todos estão perdidos, desestruturados", afirmou.

Rosimar, que era vizinha da loja de fogos, agora vive de aluguel, a poucos metros da casa que abrigou quatro gerações da sua família. Ela está afastada do serviço desde a explosão. Já não consegue mais dirigir, pois todas as vezes que senta ao volante vem à tona a imagem da nuvem escura e das chamas que viu no momento em que seguia para casa.

GUERRA - No Brasil desde 1958, o sapateiro italiano Vincenzo Felice, 75, acompanhou os horrores da Segunda Guerra Mundial. Mas mesmo os bombardeios aliados à sua Sicilia natal não foram tão assustadores quanto a explosão da casa de fogos.

"Eu estava assistindo televisão no sofá da sala quando tudo desabou. Me assustei mais do que na guerra, porque foi inesperado. Naquela época, ouvíamos o barulho dos aviões e saíamos correndo, porque sabia o que iria acontecer. Mas dessa vez foi diferente", destacou Felice. que desde então sofre com constantes dores de cabeça e pesadelos. "Acordo toda hora à noite porque vejo as imagens daquele momento", completou.

Reforma de casa descontenta aposentada

O piso - um madeirite forrado com carpete - tem ondulações. As paredes receberam uma demão de tinta para esconder marcas de umidade, enquanto as portas, danificadas, receberam apenas uma nova pintura.

Essa é a situação na casa da aposentada Bruna Medea, 86 anos, após reforma paga pela Prefeitura. Moradora do número 35 da Rua Coroados, na Vila Pires, ela teve o imóvel danificado pela explosão da loja de fogos Pipas e Cia, em setembro.

"Desde a explosão eu não estou bem. Fico mais nervosa ao ver essa situação. Tenho minha casa, não quero mais ficar na dos meus filhos", lamentou.

Segundo a filha de Bruna, a dona de casa Sueli Pereira, 61, em um primeiro momento a Prefeitura teria se recusado a reformar o imóvel. "Disseram que a casa não estava interditada. Mas eu consegui lutar para que fizessem os reparos, porque o forro do telhado caiu. As obras começaram em dezembro, e agora o encarregado diz que só falta instalar os vidros e portas. Mas, não tem condições de eu trazer minha mãe para cá", comentou.

SEM TETO - Se a reforma na residência da aposentada gerou contratempos, no caso da funcionária pública Rosimar Montanari, 41, ainda não existe casa para reformar. A Prefeitura não concordou em bancar a reconstrução. "Fomos informados de que pretendem desapropriar o terreno para construir uma rua", afirmou. Procurada, a Prefeitura não se manifestou até o fechamento desta edição.

Reabertura de loja revolta moradores da Vila Pires

A notícia de que o proprietário da loja de fogos Pipas e Cia, Sandro Castellani, voltou a comercializar fogos de artifício na garagem de sua casa, deixou indignados os moradores da Vila Pires que tiveram suas casas destruídas há quatro meses.

"Fiquei revoltado, porque parece que só os ricos têm direito neste País", disse o sapateiro Vincenzo Felice, 75 anos, que teve a casa danificada pela onda de choque da explosão.

Comentário semelhante ao da funcionária pública Rosimar Montanari, 41. "Estou muito indignada com a Justiça brasileira. Como uma pessoa causa tanta coisa e continua solta?", questionou.

O metalúrgico aposentado Expedito Boiani, 65, mostrou sua preocupação com os vizinhos de Sandro, que mora há cerca de dois quilômetros do local da sua antiga loja.

"É revoltante, porque ninguém faz nada. Acredito que os vizinhos dele estejam morrendo de medo, porque se explodiu por aqui, pode acontecer o mesmo por lá", comentou Boiani.




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