Foram canceladas nesta quarta-feira à tarde as apresentações da peça 'Tomo Suas Mãos nas Minhas', que aconteceriam no Sesc Santo André neste final de semana. Para quem já adquiriu o ingresso, o Sesc avisa que o ressarcimento será feito até o dia 30 em qualquer bilheteria da rede.

A peça conta o relacionamento verdadeiro do escritor russo Anton Tchekhov com a atriz Olga Knipper. O dramaturgo, célebre por textos como As Três Irmãs e Tio Vânia, apaixonou-se pela jovem durante a leitura de uma de suas mais importantes montagens teatrais, A Gaivota.

Nos seis anos em que se relacionaram - com a fria e conturbada Rússia de pano de fundo, distanciados por seus projetos de vida e condições de saúde, os dois trocaram mais de 400 cartas, que serviram de base para a adaptação da norte-americana Carol Rocamora, que aqui no Brasil foi traduzida e adaptada por Leila Hipólito, que também assina a direção. Roberto Bomtempo e Miriam Freeland vivem Tchekhov e Olga.

"Há estudiosos que acreditam que o relacionamento entre os dois não modificou a criatividade de Tchekhov. Pessoalmente, acho que Olga foi uma grande inspiração. Ele vivia isolado e ela era o alento dele, trazia leveza para a sua vida", conta a diretora, Leila.

Gelo na relação - A distância, provocada pela necessidade de Olga trabalhar em Moscou e de Tchekhov viver recluso por conta da tuberculose, não foi impedimento para que o amor prosperasse. "Ela reclamava que queria ser a esposa, dividir, estar ao lado do marido quando ele tivesse doente. Ele não deixava, colocava ela em um lugar representativo, de prazer, alegria e vida. Quando ela chegava é que ele vivia o alento."

Na peça, luz, cenário e texto traduzem as infinitas e gélidas distâncias do gigante país dos protagonistas. "A distância constrói a dramática. Às vezes fica muito claro que um está presente e o outro não está."

Por um lado, Olga vivia o turbilhão do sucesso na cidade grande, virando musa do teatro. Tchekhov, em seu lugar, escarafunchava sua criação. "Isso é o aspecto que é muito relacionado aos temas que ele escreveu, sobre a imobilidade em que as pessoas se colocam, a imobilidade das crenças. Ele é que se afastou pela doença e muitas vezes deixou de escrever. A história carrega o mesmo realismo que ele utilizava no que escrevia."EM

A Rússia, como nunca pode deixar de faltar num clássico romance russo, é personagem da história. "É muito forte esse isolamento, que é fruto da infância difícil que ele viveu e do sentimento de ver o país amado ainda muito injusto, vivendo o sistema czarista, gigante, frio e inerte, como muitos de seus habitantes."