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‘Irreversível’ está além do estupro de Monica Bellucci
Patrícia Vilani
Do Diário do Grande ABC
21/04/2004 | 19:54
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Quando exibido nos cinemas – o filme estreou apenas em algumas salas paulistanas – Irreversível (Irréversible, França, 2002), de Gaspar Noé, foi muitas vezes abandonado por espectadores assustados ou indignados com a agressão gratuita logo nos primeiros minutos. As cenas iniciais, extremamente violentas, causaram um verdadeiro mal-estar no público e muita gente deixou de ver a tão falada cena do estupro de Monica Bellucci, responsável pelo rebuliço no Festival de Cannes daquele ano. Com o lançamento em DVD pela Europa Filmes, para quem saiu do cinema ou para quem nem chegou a comprar o bilhete, o filme pode ser reavaliado sem a impressão precoce de seu conteúdo e, também, sem a superestimação pós-Cannes.

O espectador atento percebe de cara que a ordem cronológica de Irreversível está alterada, pois os créditos passam antes do filme. A idéia de Noé, com isso, é ironizar a vida. “A seta aponta para uma só direção, desde nosso nascimento, até nossa morte. Cada segundo traz múltiplas bifurcações e cada uma delas é irreversível”, diz. A trama se resume à vingança do personagem de Vincent Cassel, Marcus, que desce ao submundo para um acerto de contas com o estuprador de sua mulher, Alex. Irreversível começa, portanto, com o encontro de Marcus e Pierre (Albert Dupontel), um amigo que o acompanha, com o tal criminoso (Jo Prestia).

O lugar é um inferninho gay e o diretor acompanha a dupla com uma câmera mexida, um recurso usado para dar veracidade à cena. A atitude de Marcus perante seu inimigo, ao socá-lo, é até aceitável. Pierre, no entanto, se descontrola. Nume seqüência sem cortes, ele bate no rosto do estuprador com um extintor de incêndio até desfigurá-lo. Explica-se: Pierre, melhor amigo do casal, é ex-marido de Alex.

Este é apenas o início, os primeiros momentos. O interessante é que Irreversível, excluindo após isso a cena do estupro (um plano-seqüência de dez minutos no qual Alex é violentada e surrada), torna-se um filme quase banal, não fossem as boas atuações do trio protagonista. A história do casal pode ser comparada a de De Olhos Bem Fechados, já que Monica e Cassel são casados na vida real – assim como Nicole Kidman e Tom Cruise no longa de Stanley Kubrick. Os dois filmes também se assemelham pelos sentimentos desenvolvidos pelos personagens, como a relação ambígua de Alex e Pierre, que gera o ciúme de Marcus e desencadeia toda a tragédia.




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