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Duas obras-primas de Truffaut na região
Patrícia Vilani
Do Diário do Grande ABC
28/04/2004 | 20:18
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François Truffaut (1932-1984) foi a personalidade mais interessante da história do cinema francês. Após sua morte prematura, em conseqüência de um tumor no cérebro, o cinema de seu país não só ficou órfão de seu diretor mais corajoso e atrevido como nunca se recuperou completamente da perda. Em homenagem ao também grande crítico e escritor – entre suas obras-primas estão a publicação de uma longa série de entrevistas que fez com Alfred Hitchcock –, o Teatro Cacilda Becker, em São Bernardo, inicia nesta quinta sessões de dois de seus filmes, Os Incompreendidos (Les 400 Coups, 1959) e Jules e Jim – Uma Mulher para Dois (Jules Et Jim, 1961), com ingressos a preços populares.

Quando se fala que Truffaut é interessante, isso inclui também sua trajetória improvável, e não só seus filmes extraordinários. Filho de mãe solteira, teve uma relação tumultuada com o pai adotivo e um início de adolescência cinematográfico, com pequenos furtos, agressões e deserção do serviço militar. Aos 15 anos, fundou um cineclube, que faliu logo depois. Apaixonado pelo cinema, caiu nas graças de André Bazin, que o apadrinhou como crítico. Foi graças a ele que Truffaut chegou à revista Cahiers du Cinéma, onde participou da chamada política dos autores, na defesa de seus cineastas preferidos: Hitchcock e Renoir.

O pulo para trás das câmeras começou com o trabalho de assistente de Roberto Rosselini e com os roteiros escritos para Godard e Jean-Lois Richard. Tornou-se célebre por retratar, como ninguém, o amor em todas suas formas, e funcionava melhor quando filmava algo pessoal e autobiográfico, como acontece logo em seu primeiro longa, Os Incompreendidos (exibido nesta quinta, às 20h; sábado, às 20h; e domingo, às 16h).

Os Incompreendidos foi também um dos primeiros da Nouvelle Vague. Aos 27 anos, Truffaut conquistou a Palma de direção no Festival de Cannes com um filme sobre as agruras enfrentadas por um garoto de 12 anos, filho de pais severos, que não se adapta ao rígido sistema educacional francês, vivendo de golpes pelas ruas de Paris – uma clara referência a sua então recente rotina de delinqüente juvenil, cuja lembrança parece intacta, sobretudo na sensação de clandestinidade.

Jules e Jim (sexta, às 20h; sábado, às 16h; domingo, às 20h), por sua vez, fala de amor e dos diferentes caminhos para os quais são levados os personagens de Truffaut. O alemão Jules e o francês Jim dividem, além da paixão pela literatura, o amor por Catherine, que se casa com Jules, mas mantém o affair com Jim. A Segunda Guerra separa o triângulo amoroso, e Jules e Jim passam a lutar em lados opostos. Surgem sentimentos de amizade, tensão e obsessão entre os protagonistas. Para Truffaut, o amor incorpora tudo e por isso o diretor o retrata tão bem.

Mostra François Truffaut – No Teatro Cacilda Becker – praça Samuel Sabatini, s/nº, São Bernardo. Tel.: 4330-3444. Nesta quinta, às 20h; sexta, às 20h; sábado e domingo, às 16h e 20h. Ingr.: R$ 2. Entrada franca para maiores de 50 anos.




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