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Oca expõe 125 obras de Picasso a partir desta quarta
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
27/01/2004 | 19:51
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No livro Os Pintores Cubistas, o poeta Guillaume Apollinaire (1880-1918) deu ao cubismo uma definição que se cristalizou ao longo do século XX e apontou este movimento artístico como um conjunto de composições com elementos tomados “não da realidade da visão, mas da realidade da consciência”. Essa arte assumidamente subjetiva tem em Pablo Picasso (1881-1973) seu principal artífice, um pintor espanhol que a partir desta quarta-feira terá 125 de suas obras expostas na mostra Picasso na Oca (no Parque do Ibirapuera), em São Paulo. Para o visitante brasileiro essa é a maior e melhor oportunidade de vislumbrar a consciência e a visão de Picasso.

Considerada a mais representativa retrospectiva picassiana já feita na América Latina, Picasso na Oca é uma parceria entre o Museu Picasso de Paris e a BrasilConnects, também organizadora da exposição China: Os Guerreiros de Xi’An (2003), entre outras. Em termos cronológicos, a mostra é mesmo completa, pois as 125 obras situam-se no período 1895-1972, ou, dos 14 anos de Picasso até sua morte.

A tal pintura de 1895, Garota com Pés Descalços, traduz um pintor ainda doutrinado pelo rigor estético. É um óleo sobre tela que não afronta os códigos perspectivos da arte, mas possui uma composição em vermelho, ao centro do retrato de uma menina, que pode ser lida como protótipo da obsessão pictórica que viria a seguir na carreira do espanhol – nas fases conhecidas como azul e rosa.

Esses dois períodos são brevemente representados em Picasso na Oca e fazem da mostra, ambientada em cenografia da dupla Daniela Thomas e Felipe Tassara, uma representação da evolução do artista. A fase azul, visível na tela Retrato de um Homem (1902), dá conta do sofrimento (a morte de um amigo e as dificuldades financeiras) vivido por Picasso quando trocou a Andaluzia natal por Barcelona e Paris. Já a fase rosa, identificada na exposição em estudos para a tela As Senhoritas de Avignon (ausente), é associada ao consumo de ópio ao qual ele teria se entregado a partir de 1905 e nela arrogado seus delírios.

Vem então o aspecto que lhe valeu o título de cubista maior, ao lado de nomes como Georges Braque e Juan Gris. Picasso conduz às telas, a partir de então, uma impulsividade orientada pela abolição das linhas presente na obra de Paul Cézanne (1839-1906) ao mesmo tempo em que conviveu com iconoclastas como Matisse (1869-1954).

São dezenas de obras cubistas na retrospectiva, tanto do período analítico quanto do sintético, que mostram na tela vários pontos de vista simultâneos e ilustram assim a tridimensionalidade.

Seria então paradoxal a existência de uma escultura cubista (cujo suporte já é tridimensional). Mas ela existe e está na mostra da Oca: Cabeça de Mulher (Fernande), de 1909. “Nessa peça, o cubismo perde sua razão de ser”, diz a francesa Dominique Dubuis-Labée, curadora da exposição. A fuga da trivialidade continua na série Os Banhistas, pela primeira vez mostrada fora de Paris como o artista a idealizou, sobre um espelho d’água. Picasso na Oca é uma exposição obrigatória.

Picasso na Oca – De terça a sexta-feira, das 9h às 21h; sábado, domingo e feriado, das 10h às 21h. Na Oca – Parque do Ibirapuera, São Paulo. Ingr.: R$ 5 (meia) e R$ 10. Entrada franca para menores de 6 anos e maiores de 65, aposentados e portadores de deficiência física. Agendamento para excursões pelo tel.: 3253-7007 ou pelo e-mail agendamento@brasilconnects.org. Até 2 de maio.




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