Cultura & Lazer Titulo
Para brincar e ler
Cristie Buchdid
Do Diário do Grande ABC
22/09/2010 | 07:38
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Incentivar a leitura entre o público infantojuvenil é objetivo de programação diversificada no Sesc Santo André. Para que a missão seja cumprida, nada melhor do que ter como fonte de inspiração o autor mais popular do Brasil no segmento: Pedro Bandeira, que já vendeu 22 milhões de exemplares. Aos 68 anos de idade e 27 de carreira, ele tem quase 80 livros publicados.

Batizada como Pedro Bandeira Está Pra Brincadeira, a programação gratuita vai de hoje a 30 de janeiro com exposição de artes visuais, brincadeiras, contação de histórias, palestras e intervenções artísticas. O escritor prestigiará a abertura hoje, das 16h às 17h, com bate-papo informal e tarde de autógrafos. Antes de sua visita, no entanto, às 14h, será realizada contação de histórias e a intervenção Realejo Poético, na qual boneco entregará poemas do escritor.

Inspirada em sua autobiografia Lembrancinhas Pinçadas Lááá do Fundo, a programação resgata memórias da infância do escritor e brincadeiras antigas. A exposição é cenário das atividades. Reprodução do calçadão de Santos lembra a cidade onde ele nasceu.

Na área de convivência, elementos cenográficos prendem atenção do público de 6 a 12 anos. O Quintal reúne centenas de livros e gibis e espaços de leitura dentro de cabana, caminhão e embaixo de árvore encantada. Roupas do varal recebem projeção de trechos de filmes que ele assistiu na infância. Em arena, seis educadores conduzem brincadeiras.

A Casa tem armário com fantasias, lousas mágicas e contação de histórias de terça a sexta-feira às 9h, às 10h, às 14h e às 15h.

O Grupo Escolar terá oficinas de artes plásticas e literatura nos fins de semana. Palestras sobre literatura e brincadeiras serão ministradas para adultos. O Sesc Santo André fica na Rua Tamarutaca, 302, Vila Guiomar. Informações: 4469-1255. A programação está no site www.sescsp.org.br. Leia a seguir trechos da entrevista com Pedro Bandeira:

Qual é o segredo para ser o escritor mais vendido do segmento infantojuvenil do Brasil?

Eu acho que eu sou (risos), até porque sou um dos poucos autores que têm livros da pré-escola ao fim do Ensino Fundamental. É também pelo fato de eu ter tido sorte de acertar logo de cara, em 1984, com A Droga da Obediência, que foi meu primeiro grande sucesso e segundo livro publicado.

Os 22 milhões de exemplares são número expressivo.

Os números são superlativos devido a muita compra governamental. Na verdade, eu vendi 11 milhões de livros no mercado, que correspondem à compra espontânea. Os outros 11 milhões foram comprados pelo governo federal, por meio do Programa Nacional da Biblioteca Escolar.

Como se comunicar com o público infantojuvenil?

Eu sempre recebi muitas cartas de jovens e respondia todas. Agora, são e-mails. Isso ajuda muito. O escritor tem de gostar de educação, estar preocupado com o futuro das crianças e jovens. Eu passei a estudá-los e hoje sou especialista e conferencista em Psicologia do Desenvolvimento. Eu estudo sem parar há 30 anos. Mas o que faz o artista é a sensibilidade e o talento. No meu caso, o amor por aqueles que vão ler a história.

Por que o senhor escolheu o público infantojuvenil?

Foi por acaso. Eu era jornalista e a partir dos 30 anos comecei a fazer histórias infantis para revistas de banca profissionalmente. Aí gostei e dez anos depois resolvi fazer um livro. Aí, gostei mais ainda e abandonei o jornalismo. Desde 1983 eu vivo somente de literatura.

O senhor se inspira na vida real para criar personagens?

Tudo que entra no livro tem como base a realidade, mesmo que seja fantasia. Uma bruxa, por exemplo, tem algo real. Os personagens criados são a soma de muitas coisas que o autor já viu, leu, assistiu ou de sua experiência de vida. Não há um só modelo.

Existe linguagem própria para atingir jovens?

O problema não é de linguagem, mas de foco narrativo. O personagem tem de refletir alguma coisa que o meu leitor pensa, de modo que ele possa se identificar com a história.

Quais são os assuntos que mais interessam aos jovens?

Tudo que diga respeito às emoções deles, que são as mesmas emoções de todo mundo. Eles amam, têm medo, esperança, ficam alegres, tristes.

O senhor não usa gírias nos livros. Por quê?

Porque gírias não têm época ou região. As utilizadas em São Paulo não são as mesmas do Rio de Janeiro ou Porto Alegre... Gíria é algo daquele mês, se for usada no livro, ele fica velho em seis meses porque a linguagem muda. Então o autor tem de usar norma culta.

O hábito dos jovens em usar linguagem própria de internet pode provocar desinteresse pela linguagem culta?

Quem estiver interessado pelo livro, sempre estará. Antigamente a gente também abreviava palavras ao usar a linguagem telegráfica. É só uma questão de economia de tempo, o que também acontece com a internet hoje. O brasileiro, historicamente, nunca leu, ele já não estava no livro. No entanto, hoje, crianças e jovens estão lendo muito mais do que em qualquer momento da história do Brasil. Primeiro porque as escolas os fazem ler. Quando acabou a ditadura militar, a média de leitura do brasileiro era de 1,8 livro por ano. Hoje é de 4,7 livros por ano.

O livro também fez parte de sua infância?

Eu sou só livro. Quando criança, eu era solitário. Tinha dois irmãos muito mais velhos do que eu. Os livros eram minha companhia, para me divertir.




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