Cultura & Lazer Titulo
Suingue sofisticado de Santana
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
20/11/2003 | 20:42
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Edvaldo Santana retorna à cena com seu caldeirão sonoro – e dançante. Acompanhado por sua banda, o cantor e compositor paulistano lança seu quarto CD solo, Amor de Periferia, nesta sexta e sábado no Sesc Pompéia, em São Paulo. Lenine, Neusa Flores (viúva de Jackson do Pandeiro) e o pianista cubano Yaniel Matos participam dos shows.

Filho de nordestinos, nascido e criado em São Miguel Paulista (Zona Leste paulistana), Santana coloca em sua música influências variadas. Amor de Periferia contém samba-choro (Choro de Outono), samba-coco (O Jogador), mambo-xote (a faixa-título), balada-blues (Desse Fruto), partido alto (Batelaje), rock (Guilhotina), jazz-blues (Soneto Bélico).

Essa mistura, porém, não resulta em cacofonia, em samba do crioulo doido. Santana sabe dosar referências musicais. Sua sonoridade não cabe em rótulos e é popular, fruto de suas raízes – cresceu entre cantadores e o futebol de várzea, ouvindo samba, choro e música nordestina em reuniões familiares e rock, blues e reggae entre amigos.

Em Amor de Periferia, essa mistura se mostra em contornos mais nítidos em relação aos álbuns anteriores. “Isso resulta de uma depuração maior, a mistura acontece com mais naturalidade. Não fazer disco todo ano ajuda a refletir”, afirma. Independente, e distribuído pela Tratore, o disco levou 12 meses para ficar pronto. O encarte contém as letras e as cifras. Lenine, Zélia Duncan, Quinteto em Branco e Preto, Nuno Mindelis e Yaniel Matos participam do CD. Edvaldo não se incomoda por não itegrar o elenco de uma grande gravadora. “Nunca briguei com elas, mas gosto de fazer as coisas do meu jeito, sem precisar mudar meu comportamento”, diz. Escreveu em Viralatas, a primeira faixa do CD: “Minha arte não tem preço minha busca não se cansa”.

As letras não deixam de revelar uma preocupação social, principalmente em Desse Fruto: “Não sou dono da verdade, mas tenho opinião. Se o artista é a antena da raça, estou atento aos acontecimentos. Não faço disco só para entretenimento. A arte espelha os motivos da vida, as alegrias e as tristezas. Tem de mexer com a sensibilidade, despertar alguma coisa”.

Edvaldo afirma que a inquietação artística é o que o impulsiona. “Sempre senti a necessidade de buscar novas informações, de entender novas estéticas. Foi um choque quando toquei com Tom Zé em 1974, mas também um aprendizado. Da mesma forma, quando li (o poeta Paulo) Leminski”, diz. Some-se isso à vivência, aos anos de estrada, e obtém-se o tal caldeirão sonoro. “Essas coisas foram me norteando, refletindo-se na minha obra.”

Se tivesse de catalogar sua sonoridade, Santana diria que se trata de “música popular feita no Brasil com influências da música negra da Jamaica, de Cuba, dos Estados Unidos, da África”. “Música da quebrada para o mundo, com o suingue sofisticado da música brasileira”, afirma.

Amor de Periferia – Show. Com Edvaldo Santana. Participações especiais de Lenine, Neusa Flores e Yaniel Matos. Sexta e sábado, às 20h30. No Sesc Pompéia – r. Clélia, 93, São Paulo. Tel.: 3871-7700. Ingr.: R$ 7,50 a R$ 15.




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