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Usuário tem que pagar por ambulância em Sto. André
Mário César de Mauro
Do Diário do Grande ABC
12/03/2003 | 22:52
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O comerciante Vanderlei Jurado Puras, 33 anos, afirma que funcionários da empresa Hold Hospitalar Saúde Delivery, terceirizada pela Prefeitura de Santo André para prestar serviços gratuitos de ambulância pelo SUS (Sistema Único de Saúde), exigiram R$ 240 para fazer com um dos veículos o traslado do Parque Novo Oratório, em Santo André, até o Hospital das Clínicas, na capital. O caso aconteceu na manhã de terça, na sede operacional da empresa em Santo André, na avenida Dom Pedro II, 1.570, quase na esquina com a avenida Prestes Maia. Segundo a Prefeitura, a empresa não poderia cobrar pelo transporte ou oferecer serviços particulares no local.

A ambulância seria usada para levar a filha do comerciante, Jenifer, 5 anos, que sofre de leucemia, a uma consulta às 7h na manhã de terça no HC, junto com o irmão Jonatan, 7. Eles fariam um exame de tipagem (retirada de líquido das medulas dos irmãos para saber se há compatibilidade para um futuro transplante).

“Fui agendar a ambulância na base. Após passar todas as informações, me disseram que o serviço sairia por R$ 240. Falei que não, a remoção deveria ser gratuita, já que o serviço é feito pela Prefeitura via SUS. Aí, fui encaminhado para o funcionário Jorge (Avelino, gerenciador do sistema de transportes do Sistema de Saúde) na mesa ao lado. Jorge, então, me informou que tinha disponível para o serviço gratuito de remoção só duas ambulâncias, e apenas na quinta-feira (hoje), data posterior à da consulta. Deixei o local sem ter uma ambulância para levar minha filha ao HC”, afirmou.

Puras se recusou a pagar e resolveu denunciar o caso. No mesmo dia, procurou a polícia e a direção do CHM (Centro Hospitalar Municipal), que o encaminhou para o 14º andar do prédio do executivo municipal, no Paço, onde conversou com assessores do secretário municipal de Saúde, Michel Mindrisz. O comerciante pediu o traslado e ratificou a denúncia na Coordenadoria de Relações com a Comunidade da Secretaria de Saúde.

De acordo com o gerente-executivo da Secretaria de Saúde, Caio Carvalho, a licitação proíbe a oferta de serviços pagos na base operacional. “Não acredito (na denúncia), e digo mais: refuto, qualquer denúncia de cobrança ou irregularidade na sede operacional da Delivery. A empresa é considerada pública, pois está licitada. Qualquer tipo de negociação não pode ocorrer no local, todo sistema funciona pelo SUS”, afirmou. Na sede, porém, a funcionária do balcão deu ao Diário a opção de contratar o serviço particular da empresa (leia reportagem ao lado).

Segundo Carvalho, os funcionários envolvidos seriam notificados. Mas nenhum procedimento administrativo será iniciado até que haja uma denúncia formal. Para ele, o incidente com Puras não basta. “Mas não iremos nos furtar das apurações.”

Um inquérito policial está em trâmite no 4º DP de Santo André, originado por um boletim de ocorrência de averiguação de concussão (delito praticado por servidor público no exercício ou não de suas funções).

Jenifer, Jonatan e a mãe das crianças, Cristina, tiveram de ir ao HC num Gol da frota oficial da Prefeitura. “O ideal seria na ambulância, com pessoal especializado, já que minha filha está com o sistema imunológico afetado”, disse o comerciante.

Carvalho, responsável pela licitação vencida pela Delivery, disse que não foi disponibilizada uma ambulância no transporte de Jenifer porque o atendimento fugiu às normas da secretaria. “Deveria ter sido apresentado um prontuário ou encaminhamento médico que atestasse o estado da paciente, o que não houve. Disponibilizamos o carro oficial de forma assistencial”, afirmou. “Não me pediram nenhum tipo de prontuário no momento do agendamento, além do mais minha filha já fez quimioterapia no CHM”, rebateu Puras.

Às 5h50 de terça, Jenifer, com máscara no rosto, o irmão e a mãe foram para o hospital. O retorno ocorreu por volta das 9h30.




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