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‘Água Viva’ em Mauá
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
15/09/2006 | 21:15
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A atriz Suzana Vieira está em Mauá com o monólogo Água Viva, interpretando texto de Clarice Lispector (1920-1977). O espetáculo, dirigido por Maria Pia Scognamiglio, fica em cartaz neste sábado, às 21h, no Teatro Municipal (tel.: 4555-0086).

Durante sete anos a partir de 1990, Suzana protagonizou no teatro a peça A Partilha, de Miguel Falabella (remontada depois com outras atrizes), e recentemente estrelou a novela Senhora do Destino, na Globo. Desde 2003, quando estreou no Rio, ela encena este texto adaptado do livro homônimo publicado em 1973.

A personagem de Suzana é uma escritora que redige uma carta para seu amante, enquanto divaga em pensamentos perdidos. Uma jornada para o interior da alma, enquanto procura a si mesma e um sentido para a vida.

Alma esta que, no texto, é a própria Clarice. A autora articulou o “instante-já”, categoria poética que revela a transitoriedade do presente, o agora que vira passado num piscar de olhos. Fala do tempo e da importância de viver cada instante que passa e que não volta jamais. “A vida é agora e já. Não procure entender. Viver ultrapassa todo entendimento... O presente é o instante em que a roda do automóvel em alta velocidade toca minimamente o chão. E a parte da roda que ainda não tocou, tocará num imediato que absorve o instante presente e torna-o passado”, escreve a autora. A velocidade do tempo atual seria, portanto, inimiga da memória, lugar onde reside o imaginário e onde nasce toda ficção.

Fora isso, a personagem-narradora diz, na obra, “encarno-me nas frases voluptuosas e ininteligíveis que se enovelam para além das palavras.” O corpo como linguagem, e palavras como mediadoras da alma. Corpo e desejo pulsando no ritmo do texto, da narrativa da autora e na interpretação da atriz.

O espetáculo se passa em dois planos, físico e metafísico. No plano da realidade, a escritora está em seu escritório de trabalho escrevendo suas memórias e desfilando suas fantasias. No plano mítico, dois bailarinos (Toni Rodrigues e Natasha Mesquita) encarnam desejos e pensamentos da escritora, dançando o que ela sonha.

Após uma tarde e uma madrugada de indagações, declara que se encontrou e se reconcilia com a vida. Neste ritual solitário, experimenta intensamente as emoções humanas: paixões, sonhos, erotismo e desejos.




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