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Livro conta toda a história do Nirvana
Patrícia Vilani
Do Diário do Grande ABC
17/08/2002 | 16:16
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Quando seu filho tornou-se um ídolo do rock, Wendy Cobain tinha um medo freqüente: o de que ele entrasse para um clube bizarro, formado por três nomes que fizeram parte da história da música mundial. A mãe de Kurt referia-se à coincidência de que Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison haviam morrido aos 27 anos. E quando Wendy soube do suicídio de Kurt, ela disse a um repórter da Associated Press: “Agora ele se foi e entrou para aquele clube estúpido. Eu disse a ele que não entrasse para aquele clube estúpido”.

Essa declaração foi reproduzida para os meios de comunicação de todo o mundo. Mas outra frase, dita após a entrevista e não publicada, marcou a dor de Wendy pela perda de seu único filho homem: “Eu nunca mais vou abraçá-lo novamente. Não sei o que fazer. Não sei para onde ir”. Essa é uma das muitas curiosidades sobre a vida do líder do Nirvana, morto em abril de 1994, e revelada pelo jornalista Charles R. Cross em Mais Pesado que o Céu – Uma Biografia de Kurt Cobain (Globo, 450 págs., R$ 40 em média).

O título é um achado para fãs da banda, que revolucionou o rock dos anos 90 e deu início ao chamado movimento grunge – que mais tarde revelou bandas como Alice in Chains, Pearl Jam e L7. Mas também é uma leitura curiosa sobre um menino nascido na pacata cidade Aberdeen, Washington, que ganhou uma guitarra da tia Mari ainda adolescente e, pouco tempo depois, virou ídolo de toda uma geração. O tema entra em evidência com a notícia de que seus diários serão transformados em livro. Alguns trechos destes escritos estão em Mais Pesado que o Céu e grande parte deles é impossível de ser desvendada sem a pesquisa de Cross, editor da revista The Rocket que assumiu a missão de desvendar a alma de Kurt Cobain.

As 800 páginas escritas por Kurt e distribuídas em 23 diários serão publicados sem cortes pela editora Riverhead Books em 11 de novembro, conforme anunciado, sob o título Kurt Cobain: The Journals. “Nós impedimos qualquer intromissão editorial. Será Kurt Cobain puro e natural”, disse a diretora da Riverhead Books, Julie Grau, ao site Ananova. Mas Kurt Cobain puro e natural – isso inclui seus escritos e trabalhos artísticos, já que ele era um desenhista promissor – são praticamente um enigma, com um resultado enraivecido e patológico. Não é rara a ladainha do trecho reproduzido ao lado (“Quando eu crescer...”).

No fax escrito para Courtney, por exemplo, há uma série de códigos a serem decifrados. É claro que ele não tinha nenhum menino indiano como seu escravo de amor, também não existe a gravidez que ele anuncia – esses eram alguns de seus delírios. Lenny Kravitz era o codinome usado por Kurt nas ligações para Courtney, quando ambos estavam separados pelas turnês de suas respectivas bandas. Mas real mesmo era o vício a que ele se referia e também o médico inglês que ele descobrira para receitar morfina farmacêutica.

Ele se imaginava como um sujeito malvado, defeituoso e doente. Um conto sem pé nem cabeça criado por ele falava de seu gosto em chutar pessoas idosas porque “estes tornozelos têm uma garrafa plástica cheia de urina afivelada nelas e um tubo que vai para dentro da velha vagina musculosa esgotada”. E, a partir de novembro de 1990, um novo personagem entrara para suas histórias malucas: a heroína. Ele emprestou à droga uma personalidade feminina, já que ela se tornou seu grande amor naquele outono.

O suicídio era outro tema que freqüentemente surgia como tópico de seus diários. Ele fantasiava o céu e o inferno, abraçando a idéia da espiritualidade como fuga para sua programada morte, mas também rejeitando qualquer convicção. Cross, com seus estudos, fez grandes descobertas sobre a morte misteriosa de Kurt e conseguiu descrevê-la com detalhes. Uma delas foi que Kurt, mesmo se não tivesse apertado o gatilho da espingarda em direção ao céu da boca, teria morrido de overdose – antes do disparo ele injetou o equivalente a US$ 50 de heroína chinesa logo acima do cotovelo, não muito longe de seu K tatuado. Mas isso não está escrito em seus diários e nem em seu bilhete suicida.




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