Moradores de diversos bairros de São Bernardo se queixam da falta de medicamentos nas UBS (Unidades Básicas de Saúde). Quem procura por itens destinados à resolução de problemas comuns à população, como pressão alta e diabete e até mesmo analgésicos, têm dificuldades, já que os estoques da rede pública de Saúde do município estão cada vez mais escassos.

A equipe do Diário visitou algumas UBSs da cidade e constatou a falta de vários remédios. A principal reclamação dos moradores é em relação ao medicamento Losartana. O remédio é indicado para o tratamento da hipertensão arterial e da insuficiência cardíaca e sugere uso diário. Mesmo assim, os moradores são deixados na mão pelo poder público, situação vivida pela dona de casa Etercia Ferreira da Silva, 72 anos, usuária da UBS Alvarenga. “Faz um tempo já que não tem. Fui na UBS do Jardim Ypê e também não tinha, e aqui (no Alvarenga) não tem cálcio faz uns seis meses”. As farmácias das UBSs União e Jardim das Orquídeas também não têm o item em estoque.

O aposentado Sebastião Zacarias Santos, 55, também faz tratamento com Losartana, e acumula decepções na hora de retirar os remédios na UBS Alvarenga. “Da última vez em que vim pegar os seis medicamentos que uso, apenas um não estava disponível. Desta vez o número subiu para três”, conta Santos.

Os pacientes da unidade Alvarenga que sofrem com hipertensão arterial também não podem contar com o Atenelol, destaca a aposentada Maria José de Carvalho, 63. Ela, que também procurava por Sinvastatina, medicamento que reduz os níveis de colesterol no sangue, saiu de mãos vazias da unidade de Saúde, “Me recomendaram ir até a Farmácia Popular (são quatro unidades na cidade), mas também não me entregaram os remédios por causa de um carimbo da UBS que estava errado.”

Outro medicamento em falta é o Euthyrox. Pacientes que fazem uso de dosagens mais altas, como 70 mg e 150 mg, reclamam da indisponibilidade do remédio, só encontrado na versão de 15 mg. O item é utilizado no tratamento do hipotireoidismo, doença causada pela produção insuficiente de hormônios pela tireoide e que resulta em sintomas como sonolência, cansaço e dificuldade de perda de peso.

O tratamento dos diabéticos também é prejudicado na rede municipal. A Metformina, utilizada para reduzir os níveis de açúcar no sangue, está em falta na unidade Alvarenga. Em outros locais da cidade, como na UBS Rudge Ramos, também não se encontra a fita utilizada para o exame específico.

A UBS Alvarenga também não conta com o omeprazol em seu estoque. O medicamento é utilizado no tratamento de úlceras e gastrite. O ácido fólico também está em falta no sistema.

Na UBS do Jardim das Orquídeas a situação é ainda pior. Além de desabastecimento dos remédios de uso prolongado, a unidade não possui analgésicos como a Dipirona em estoque.

E não são apenas as UBSs os alvos de críticas da população por conta da falta de medicamentos. A psicóloga Fernanda Lima, 29, também encontrou problemas no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) União/Alvarenga. “Tive de buscar o remédio Sertralina para o meu irmão, mas não tinha e não me deram prazo de quando poderei retirar o medicamento”, relata. A Sertralina é um antidepressivo utilizado no tratamento de transtornos como a síndrome do pânico, o transtorno obsessivo-compulsivo ou do estresse pós-traumático.

Paço promete regularização em breve
A Prefeitura de São Bernardo informou, por meio da Secretaria de Saúde, que há o desabastecimento pontual de alguns medicamentos e insumos na cidade. Conforme a administração, a situação foi acarretada por conta do processo de compra realizado pela gestão anterior (chefiada por Luiz Marinho – PT), feito em menor proporção.

Outra justificativa da Pasta para o problema são os atrasos no pagamento a fornecedores, o que gerou restos a pagar. Com isso, houve a recusa de outras empresas para a entrega de medicamentos. “Assim que a nova gestão assumiu a Prefeitura, houve o levantamento imediato da real situação da rede, com adoção das medidas para regularização de estoques e restabelecimento da rotina de distribuição”, destacou.

Considerando os prazos entre o processo de aquisição, empenho, entrega e liquidação, as entregas estão sendo realizadas seguindo cronograma e “brevemente a situação estará totalmente superada”, promete a administração. Como medida alternativa, alguns medicamentos estão sendo remanejados entre as unidades, visando assegurar a assistência, ressaltou o Executivo. “A Secretaria de Saúde tem envidado esforços no sentido de assegurar a distribuição e a regularização do abastecimento a todas as unidades”, pontuou.

Pacientes esperam há mais de um ano por consulta com dentista
Como se não bastasse a falta de remédios na UBS (Unidade Básica de Saúde) Alvarenga, em São Bernardo, os pacientes do equipamento enfrentam problemas também na hora de marcar consultas.

A aposentada Maria José de Carvalho, 63 anos, conta que aguarda há pelo menos dois anos por uma consulta com dentista e com o oftalmologista da unidade de Saúde.

Situação similar vive o também aposentado Sebastião Zacarias Santos, 55. Ele está na espera por uma consulta odontológica há mais de um ano. “A informação que passam para nós é a que não tem dentista. Sempre que aparece um, ele pede demissão, aí outro entra em seu lugar, mas também pede demissão. Nunca tem dentista disponível”, afirma Santos.

O aposentado conta que já passou seis vezes para tentar marcar consulta na unidade de Saúde, mas não obteve sucesso. Segundo ele, a informação que a população recebe é a de que o grupo de ortodontistas é dividido em equipes regionalizadas – e a sua região, representada pela equipe verde, sofre com a falta de profissionais para atendê-los.

Até o fechamento desta edição, a Prefeitura de São Bernardo não se manifestou sobre o assunto.