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Infrações criam indústria de multas
Jéssica Xavier*
21/09/2009 | 07:04
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As infrações que lideram o ranking de multas no ABC são excesso de velocidade, avanço de sinal vermelho, não utilizar cinto de segurança e estacionar em desacordo com a fiscalização.

Em 2007, mais de 210 mil infrações foram registradas por excesso de velocidade só em São Bernardo, município com a maior frota de carros do ABC, com mais de 370 mil veículos. No total, a região teve a marca de 672.695 registros de multa no ano.

O desrespeito às leis de trânsito é visto constantemente nas vias. Em São Bernardo, entre a Estrada da Lágrima e a Av. Dr. Rudge Ramos, motoristas passam pela calçada de um posto de gasolina para evitar o semáforo, após a saída dos guardas da CET que ficam no local até por volta das 8h30.

Um morador de outro município do ABC, Diadema, que figura no ranking de multas de 2007 com 80 mil registros, exemplifica que esse dado poderia ser bem maior. "Sou habilitado há 21 anos e nunca levei uma multa. Já cometi várias infrações, mas falta fiscalização.

Acho que pelo menos 99% não são percebidas", disse o aposentado José Dias Barbosa, 46, que mora em Diadema há dez anos.

A sinceridade dos motoristas não faz com tenham mais consciência no trânsito. O auxiliar de produção Carlos Eduardo Yacota, 28, que perdeu a carteira de habilitação pela segunda vez há menos de seis meses, conta o motivo. "A gente nunca acha que vai acontecer: sair sem capacete para dar uma volta e encontrar um carro da polícia. Mas aconteceu", disse Yacota, que dirigia uma moto quando foi autuado.

A mulher de Yacota disse que o marido estava levando o filho de três anos ao médico, sem capacete e sem carteira de habilitação. "Quando você vê seu filho ali passando mal, você vai pensar só em salvá-lo, correndo", afirmou a promotora de vendas Fabiana Ribeiro Haddad, 22, sem explicar as outras multas.

A Prefeitura de Diadema informou que desde 2005 tem reduzido os mecanismos de fiscalização e controle utilizados pelo município. A medida foi tomada após se constatar a redução de infrações onde estavam localizados os equipamentos de checagem.

Em 2005, havia quatro lombadas eletrônicas e 29 radares. Hoje, esse número foi reduzido para 21 radares, 17 fixos e quatro móveis.

Segundo determina o Código de Trânsito Brasileiro, o dinheiro arrecadado deve ser revertido para ações de sinalização, engenharia de tráfego, fiscalização e educação de trânsito em toda a cidade.

Mesmo com a queda no valor arrecadado nos últimos anos, a Prefeitura de Diadema somou R$ 10 milhões em 2008. Em 2005, foram R$ 16,6 milhões.

Com exceção da cidade de Diadema, os demais municípios da região não revelaram o total da arrecadação. O valor gerado com a negligência dos condutores faz parte do orçamento público, o que aumenta a insatisfação dos motoristas. "Acho que não adianta o governo aplicar multa. Isso para mim já virou um comércio. O município fica dando multa em todo mundo para levantar dinheiro", declarou Yacota.

Alguns moradores expressam a insatisfação com o "suposto" excesso de fiscalização com adesivos provocativos, como "visite o ABC e ganhe uma multa". Mas só as infrações gravíssimas doem mesmo no bolso. Além de pagar R$ 574,62, o motorista ainda perde sete pontos na carteira.

Com acúmulo de 20 pontos na carteira num período de 12 meses, o condutor perde o direito de dirigir por dois anos. Depois de passado o prazo, o infrator pode recuperar a carteira de habilitação ser passar por reciclagem.

Os novos condutores não podem ter nenhuma infração grave ou gravíssima nos primeiros dois anos, período em que é emitida somente uma permissão.

Motoristas dizem que aprenderam a lição

Karla Marrocos*

"Na minha família várias pessoas já perderam a carteira de habilitação por causa desse monte de multas que estão aplicando por aí." É o que afirma Ricardo Pinheiro, 22, que mora em São Caetano e perdeu sua carta no ano passado ao ser autuado quatro vezes na região do ABC. Ele sentiu o aumento no número de autuações da região no bolso. O estudante tenta regularizar sua situação no Detran para voltar a dirigir. Assim como Ricardo, em sua família, pai e irmão mais velho já passaram pela mesma situação.

"A gente toma multa por qualquer coisinha. Depois, a burocracia para recuperar a carteira é enorme. O sistema de multas aqui no ABC acaba educando o motorista, mas só porque ele é obrigado a pagar uma fortuna pra ficar regular de novo", afirmou Pinheiro.

Assim como ele, Guilherme Giovanetti, 25, morador de São Paulo, perdeu sua habilitação por conta de multas tomadas no ABC, principalmente em Santo André, cidade onde vive sua ex-namorada. O gerente de logística, que frequentou a cidade durante três anos, levou seis multas em 2007, três por excesso de velocidade.

"Há muitos lugares do ABC em que a velocidade da via cai bruscamente só para flagrar motoristas acima de 40 km/h", afirmou Giovanetti.

Apesar de se sentir prejudicado com o sistema de trânsito, Giovanetti reconhece que o grande número de multas aplicadas pode significar que a fiscalização na região é eficaz. Para ele, em questões proporcionais, o ABC possui mais radares do que São Paulo.

"Em São Paulo, os radares ficam em locais estratégicos. Os que obrigam o motorista a andar em baixa velocidade, por exemplo, ficam em locais onde ocorrem mais acidentes", disse ele. Quanto ao papel educativo das multas, Giovanetti concorda com Pinheiro.

"Quando você fica sem a carta e tem que começar a usar transporte público e fazer cursos para retomar a carta, aí sim aprende a lição."

Dicas

Gabriel Navarro*

Não adianta tentar driblar a vigilância. A melhor solução para evitar multas é respeitar as regras e conduzir o veículo com atenção ao que ocorre na pista. O problema está nos motoristas descuidados e não num suposto excesso de fiscalização. Essa é a opinião de Irineu Vilanova, pedagogo formado pela PUC-SP e especialista em educação para o trânsito. "A formação de condutores é bem deficitária, mas não é desculpa. No CFC (Centro de Formação de Condutores), você aprende todas as leis que precisa." Confira as dicas do professor:

- Faça seu percurso com alguns minutos de antecedência. Se surgir um imprevisto no caminho, você não precisa sair correndo pelas ruas.

- Não aumente a velocidade sem um bom motivo. Quanto mais rápido dirigimos, menos enxergamos as laterais do nosso campo de visão, onde está a maioria das placas.

- Não acelere no semáforo amarelo. Essa cor alerta para a necessidade de diminuir a velocidade, não aumentá-la.

- Não fique colado no veículo da frente. Se o farol está fechado ou você está em um congestionamento, o ideal é parar a uma distância que dê para ver os pneus traseiros de quem está adiante.

- É importante manter distância de ônibus e caminhões, que obstruem a visão do semáforo.

- Celular. Você sabe que não pode usar quando dirige. Se precisar, pare em lugar seguro.

- Cinto de segurança não é opcional. É obrigatório por lei e para a sua vida. O "jacarezinho", que destrava a firmeza do cinto até o volante, não evita multa. Você pode ser multado por inutilizar o equipamento de segurança.

- Deitar o banco para pôr o cinto com folga também é inutilização do equipamento e você pode até acabar enforcado pelo cinto.

- Para motociclistas: capacete tem que ser afivelado na cabeça.

- É comum esquecer o estepe murcho. Ele precisa estar calibrado com 3 a 5 libras a mais para não esvaziar logo.

- Atenção para o rodízio de placas da Capital, que abrange os bairros da Saúde e do Ipiranga (no limite com o ABC).

- Em cruzamentos, reduza a velocidade mesmo que o sinal esteja aberto. Você terá mais visibilidade e reduz as chances de fechar a passagem.

- Crie o hábito de sinalizar suas intenções. Desde dentro de um condomínio até numa rodovia.

*O conteúdo editorial desta página é de responsabilidade da Universidade Metodista de São Paulo, com supervisão editorial da jornalista Margarete Vieira Pedro.




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