O teste era para analisar como se sairiam os alunos e alunas em caso de pânico em acidente aéreo. "Para o início, até que estao bem", disse o instrutor e sargento Pierre José Nunes, 40 anos, do 1º Grupamento de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros. Alguns estudantes, por conta própria e sem saber que tudo se tratava de uma farsa, fizeram curativos e imobilizaram os supostos feridos. O sangue e a fratura - simulados com o uso de produtos químicos - pareciam reais. A fumaça havia sido provocada pelo acionamento de um extintor de incêndio. Situaçoes semelhantes a essas foram constantemente treinadas em meio às trilhas percorridas dentro da Serra do Mar, na tarde do dia seguinte.
No acampamento, onde todos passaram as madrugadas de sábado e domingo, dormia-se muito pouco: cerca de três a quatro horas apenas. Os homens e as mulheres ficavam em barracas separadas. Em turno, revezavam-se sentinelas que eram designados entre os próprios alunos. Eles ficavam de prontidao para evitar que os garotos e as garotas tivessem um contato mais próximo.
O dia era sempre cansativo e repleto de atividades físicas. A alimentaçao, controlada. Pela manha tomava-se café com leite, bolachas e sanduíche de presunto e queijo. No almoço, um lanche parecido com a refeiçao anterior, mas em vez de biscoitos, frutas (banana, pêra e maça). Para substituir o capuccino, refrigerantes. A noite, no jantar, o cardápio era sopa. Todas as refeiçoes foram previamente pensadas para que os alunos recebessem todas as vitaminas necessárias para a prática dos exercícios.
O treinamento acabou sendo marcado por muitas caminhadas, simulaçoes de descidas e subidas em morros e até mesmo a travessia de um rio pendurado em uma corda (claro, que com cinto de segurança).
Os alunos construíram barracas em meio à selva. Elas eram feitas com madeiras em forma de triângulo que eram entrelaçadas e amarradas com cipós. Depois, as folhas das árvores eram colocadas encaixadas e sobrepostas de forma a evitar a entrada de água.
Aprendeu-se também a construir armadilhas para pegar peixe. Por meio de uma barragem feita com madeira, evitava-se que o animal desça o rio. Dessa forma, ele fica preso na própria barragem sem conseguir voltar, porque a barreira acumula mais água - num pequeno espaço - que boa parte do rio.
Para se virar em meio ao mato, os alunos construíram forno e grelhas (moldando barro e pedra, esperando que ele secasse para depois atear fogo) e até um observatório com degraus improvisados numa árvore. O ponto servia para verificar a aproximaçao de uma aeronave que poderia auxiliar o resgate dos tripulantes.Nesses locais,aconselha-se também fazer uma fogueira - na falta de sinalizadores - para pedir socorro.
Depois de quase 20 horas na Serra do Mar, o ônibus seguiu com os alunos para a praia de Indaiá, em Bertioga. Lá, o grupo passou cerca de dez horas. O treinamento seguia sempre com instruçoes de salvamento na água. Todos, no entanto, usavam coletes salva-vidas. Aprendeu-se também como entrar no bote, maneiras de encontrar alimento no mar, técnicas de primeiros socorros e sinalizaçao para resgate.
As aulas do curso começaram a ser ministradas no dia 12 de março - uma sexta-feira -, estendendo-se durante o fim de semana. As instruçoes foram dadas por profissionais do 1º Grupamento de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros.
Tanto na selva quanto no mar, havia helicópteros à disposiçao dos alunos para que o treinamento ficasse mais próximo da realidade. "Foi superválido passar por todos esses testes. Principalmente porque a equipe e os professores sao nota dez", disse a futura comissária de bordo Flávia Capucho, 22 anos.
Também com vocaçao para a profissao, Melissa Martins Cordeiro, 19 anos, aprovou em 100% a maratona de exercícios de sobrevivência. "Tudo o que aprendemos nao irá servir apenas para a profissao, mas para a minha própria vida", resumiu.
O repórter Marcelo Picolo viajou a convite da ABC Fly
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