Estão em quase duas horas de duração as confissões que o cantor norte-americano fez para Martin Bashir, jornalista inglês que passou oito meses ao lado do popstar para conseguir declarações e imagens exclusivas: que ele dormia com crianças no mesmo quarto; que seu pai lhe batia quando pequeno e o chamava de “nariz gordo”; que se sente um Peter Pan com 4 anos; que nunca fez nenhuma cirurgia plástica, apenas duas operações no nariz para ajudar a atingir notas mais altas ao cantar etc.
Bashir entrevista o cantor em Las Vegas, Berlim, Miami e em sua fazenda Neverland, perto de Los Angeles. Mostra sua vida privada, seu carisma e seu comportamento bizarro, com a música do cantor na trilha. Sem entrevistas com familiares ou amigos, Bashir procura deixá-lo à vontade para agir naturalmente. Jackson é tímido quando fala de si, extrovertido perto de fãs – que existem e o idolatram – e triste ao lembrar de seu passado e de coisas que o magoam, como o sensacionalismo.
Sem um sucesso musical desde os anos 80, e com uma aparência cada vez mais parecida com a dos bonecos de cera que coleciona em um quarto de hotel em Las Vegas, Michael vive em um mundo patético. Com cabelos longos e negros, nariz vincado e lábios muito vermelhos, sua figura asséptica chama a atenção. No fim do programa, está de cabelos mais curtos e lábios mais enrijecidos do que antes.
Michael fala sobre a presença de crianças em seu quarto, onde “compartilha amor” com eles. Fala sobre a disciplina imposta por seu pai, que o usava como exemplo para os irmãos e batia nele com o que estivesse à mão. Bashir o coloca contra a parede ao fim do programa. Nos últimos 30 minutos, o cantor nega ter feito cirurgias plásticas e não acha errado ser um adulto que leva crianças para seu quarto.
O documentário tem cenas estranhas, como a do bebê Prince Michael II, apelidado de Blanket (manta, em inglês). Com essa criança Michael protagoniza o momento mais bizarro. Sentado em uma cadeira, dá mamadeira ao bebê, este com um véu sobre a cabeça. O menino tenta retirá-lo de suas narinas e é impedido pelo pai, que o ajeita no rosto da criança. Michael balança tanto as pernas – como se estivesse nervoso – com a criança no colo que esta fica chacoalhando o tempo todo.
O propósito era mostrar como Michael se importa com os filhos. A cena foi gravada depois da infeliz aparição na sacada de um hotel em Berlim, quando ele debruçou-se perigosamente com o bebê para mostrá-lo aos fãs.
Os outros dois filhos do cantor, Prince Michael, 6, e a menina Paris, 4, não irão à escola porque seu pai teme que eles sofram por serem filhos de Michael Jackson. Pelas ruas, ou durante um simples passeio pelo zoológico, suas crianças andam a seu lado com máscaras carnavalescas. Uma confissão fará tremer Juizados de Menores pelo mundo: o cantor pretende adotar pelo menos duas crianças de cada continente.
Michael seria um ingênuo traumatizado por um tratamento cruel na infância ou interpreta um papel onde faz o que quer, como quer e quando quer sem que ninguém diga nada? Pode provocar asco ou pena, mas dificilmente essas impressões caminharão juntas enquanto Michael Jackson for o assunto.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.