"Vimos muitos filmes. E, com base na pré-seleção de imagens, o Renato (o montador Renato Valone) e eu montamos a cena inicial." Ela carrega um conceito, uma carta de intenções. Eryk explica os motivos que o levaram a esse filme. "Queria entender minhas raízes. Depois de toda aquela correria, na primeira fala do filme, Glauber (Rocha) diz que Humberto Mauro é a raiz de tudo. Queria me entender, entender o Brasil, aquela geração que amava o cinema e queria mudar o mundo." Mas sempre numa perspectiva atual. "O filme começa e termina com corridas desencontradas. É como vejo o Brasil hoje. A esquerda precisa criar um projeto coletivo para tornar este País viável de novo."
A esquerda - da direita, Eryk não quer saber, exceto em termos críticos. "Há um processo de nazificação no mundo. Eles (os neonazistas) estão saindo do armário." Esse assalto ao poder o horroriza - o horror, o horror. Não é um discurso em alta no Brasil atual - nem no mundo -, mas Eryk o considera necessário. "No Rio, na apresentação do filme no Odeon, tivemos overbooking e foi preciso distribuir ingressos, dando direito ao público de vê-lo na estreia", conta. "Em São Paulo, na Mostra (no debate de segunda, 31, com o crítico, ator, professor e cineasta Jean-Claude Bernardet), a sala lotou e muita gente ficou de fora, esperando a chance de poder entrar. Tem muita gente insatisfeita, querendo agir, refletir. O cinema pode fornecer essa ferramenta."
Pensar o Brasil, mudar o Brasil - já era o que queriam os autores do Cinema Novo, lá atrás, há mais de 50 anos. Glauber, o pai de Eryk, virou mito. Não é fácil carregar esse peso, mas o "garoto" está conseguindo. Cinema Novo ganhou o L?Oeil d?Or?, o Olho de Ouro como melhor documentário no Festival de Cannes, em maio. E, agora, no fim de novembro, o filho do homem ganha sua primeira retrospectiva - no Porto, em Portugal. A obra em processo de Eryk Rocha poderá ser (re)avaliada em bloco. Um cinema de busca - estética, humana, política. O sonho não acabou.
Uma das grandes alegrias de Eryk com Cinema Novo veio do MoMa, de Nova York, que selecionou os 12 filmes essenciais do ano - nove ficções e três documentários. Dois dos EUA e o terceiro, Cinema Novo. "Mais até do que a escolha, o que eles dizem do filme é emocionante. Veem nele uma busca estética e uma afirmação humanista. Foi tudo que nos moveu", diz. Eryk conclui um filme sobre uma guerrilheira do Araguaia que hoje vive à beira da Transamazônica. "Edna é seu nome e também o título. Sobreviveu a tudo. E é uma narradora excepcional, de si mesmo, no sentido benjaminiano (refere-se a Walter Benjamin, o pensador)." Outro filme ainda é projeto, para rodar no ano que vem. Uma ficção sobre um motorista na noite do Rio. Eryk está bem entusiasmado.
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