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Galeria inaugura mostra retrospectiva de Abraham Palatnik
Do Diário do Grande ABC
12/04/2000 | 15:45
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Presença constante em qualquer estudo sobre a arte brasileira da segunda metade do século, Abraham Palatnik é apresentado orgulhosamente por críticos e historiadores como pioneiro da arte cinética no Brasil e no exterior. Essa consagraçao teórica, no entanto, contrasta com a dificuldade de se ver de perto sua produçao. Para preencher essa lacuna, a Galeria Nara Roesler, em Sao Paulo, inaugura esta quinta-feira à noite uma exposiçao de caráter retrospectivo, que dará ao público paulista uma noçao abrangente de seus mais de 50 anos de produçao.

A mostra, que tem curadoria de Frederico Morais, é um resumo bem-sucedido da grande retrospectiva que o artista apresentou ano passado no Museu de Arte Contemporânea de Niterói. E dá início a uma série de atividades que a galeria realizará ao longo do ano sobre arte e tecnologia. Na noite desta quinta-feira também será lançado um jornal sobre o tema e a partir do 25 e até 11 de maio ocorre o curso "Arte e Tecnologia: do Cinetismo à Ciberarte" (as inscriçoes já estao abertas). Convém mencionar ainda que em outubro a galeria inaugura uma mostra de Julio le Parc, um dos precursores da op art ao lado de Palatnik.

Apesar de o critério de seleçao e montagem nao ser necessariamente cronológico, a mostra perpassa todos os momentos importantes da carreira de Palatnik. O ponto inicial sao desenhos e pinturas de ateliê realizados pelo artista ainda em Tel-Aviv - onde morou dos 4 aos 20 anos. Ele conta que quando voltou ao Brasil, em 1945, era um jovem muito satisfeito e orgulhoso da formaçao obtida nos quatro anos de estudo em ateliê livre. Mas ao ser apresentado ao trabalho desenvolvido pelos pacientes de Nise da Silveira no hospital psiquiátrico do Engenho de Dentro, seu mundo desmoronou.

Esse confronto com uma criaçao tao densa e rica de significados, a descoberta das teorias sobre a Gestalt de Mario Pedrosa e a constataçao de que "seu subconsciente era muito pálido para alcançar um nível tao fabuloso de criaçao" acabaram levando-o a romper definitivamente com a figura e a descobrir o caminho que trilha até hoje. "Percebi que tinha de fazer uma coisa dinâmica, que funcionava no espaço", resume ele. De 49 a 51 dedicou-se a construir complexos aparelhos batizados por Pedrosa de cinecromáticos, nos quais conseguiu recriar a pintura em movimento.

A primeira dessas obras foi exposta na 1ª Bienal de Sao Paulo. Inicialmente o júri julgou que aquela engenhoca esquisita nao merecia estar na exposiçao, mas Palatnik acabou sendo convidado a expor na última hora no espaço dedicado à representaçao japonesa, que acabou nao vindo. O resultado uma mençao especial dada pelo júri internacional.

Além de encantadoras, as combinaçoes de cor, formas e movimentos e a polivalência técnica de Palatnik (os cursos de mecânica e física que fez em Israel acabaram sendo de grande valia) sao de um rigor impressionante. Utilizando elementos distintos como madeira, papel cartao ou tinta, o artista está sempre buscando uma espécie de disciplina, de método que permita ordenar de forma precisa as informaçoes contidas nos materiais. Apesar do inegável apelo afetivo que suas obras provocam no espectador, Palatnik faz questao de afirmar que a inspiraçao jamais esteve presente em seu trabalho.

O mesmo pode dizer-se a respeito da representaçao- a nao ser nas primeiras obras da juventude. "O trabalho de arte tem de representar a si mesmo e nao outra coisa", defende. Isso nao quer dizer, no entanto, que cada um vê o que quer em seus trabalhos. Flores ao vento, castelinhos de areia ou rostos tridimensionais em superfícies planas de madeira, tudo isso é fruto da nossa imaginaçao.




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