Nenhuma das 144 unidades prisionais do Estado aderiram sábado à greve anunciada na última sexta-feira pelo Sinfuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo). A paralisação era parte da programação do luto oficial em memória dos dez agentes mortos desde maio deste ano por integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) e previa a proibição de visitas para os mais de 121 mil presos sob tutela da SAP (Secretaria de Estado da Administração Penitenciária). Sábado, outro agente penitenciário foi assassinado na capital, o que pode reverter o quadro nas prisões neste domingo.
Nos bastidores, a informação é que o recuo ocorreu porque os funcionários ficaram com medo de que os presos pudessem organizar rebeliões em resposta ao endurecimento gerado pela greve. Além dos portões fechados às visitas, a manifestação previa ainda a proibição do banho de sol e da entrada dos jumbos (sacolas com alimentos e roupas entregues aos presos por parentes). Diante do risco, o Sinfuspesp optou por deixar a cargo dos agentes de cada unidade a decisão de aderir ou não à greve. Algumas unidades esboçaram uma paralisação e iniciaram suas atividades com atraso.
No Grande ABC, o único CDP (Centro de Detenção Provisória) que não teve visitas sábado foi o de Mauá, mas a proibição se deu em razão de um castigo ao qual os presos estão sendo submetidos desde o dia 26, quando foram encontrados "objetos ilícitos" dentro das celas. A reportagem não obteve detalhes sobre tais objetos.
"Resolvemos fazer uma trégua com os presos. Vamos dar um voto de confiança para o partido e ver o que acontece", afirmou Luiz Carlos Camilo, integrante do corpo diretor do Sinfuspesp, referindo-se ao PCC. Funcionários dos CDPs (Centros de Detenção Provisória) do Grande ABC ouvidos pelo Diário acreditam que o recuo da greve expõe a fragilidade da categoria. "Quem vai respeitar a gente agora? Os presos sabem que ganharam a briga, que são mais fortes", disse um agente penitenciário que teve a identidade preservada.
A tensão entre funcionários de penitenciárias e criminosos teve início em maio deste ano. O pivô do conflito teria sido a adoção de medidas rigorosas contra os presos após o início da série de atentados promovidos pelo PCC em São Paulo. A crise chegou ao ápice no início desta semana, quando policiais descobriram um plano da facção criminosa para assassinar funcionários dos quatro CDPs do Grande ABC durante a troca de turno. No confronto, 13 homens que participariam do plano foram mortos pela polícia.
Em resposta às mortes, pessoas supostamente ligadas ao PCC assassinaram na última quarta-feira o agente penitenciário Nilton Celestino, 41 anos. sexta-feira à noite, mais um dos envolvidos no crime foi preso, na divisa entre São Paulo e Itapecirica da Serra. Fábio Santos Moreira, 25 anos, estava com uma submetralhadora.
Antes dele, pouco depois da execução do agente, a polícia prendeu Renato Fernandes Souza, 21. Em protesto contra a morte do agente, o Sindasp (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado de São Paulo) promoveu a paralisação de 41 das 144 unidades prisionais, durante 24 horas.
"Eu sabia dessa briga pelo que saía na imprensa. O pessoal já havia comentado que talvez não houvesse visita nesse fim de semana, mas resolvi arriscar", afirmou Alice da Silva, 21 anos. Ela saiu de Praia Grande, no litoral, sábado pela manhã, e montou acampamento em frente ao CDP de São Bernardo para visitar o marido, que há sete meses aguarda julgamento por formação de quadrilha.
Neste domingo, no entanto, a situação pode se agravar. A trégua anunciada pelo Sinfuspesp pode ser quebrada por conta da morte de mais um agente penitenciário. Eduardo Rodrigues, 41 anos, foi assassinado com quatro tiros à queima-roupa por volta das 10h, no Jardim Arpoador, zona Oeste de São Paulo. Ele trabalhava na Penitenciária Feminina de Santana, na capital, e foi morto dentro de uma loja, onde havia levado uma TV para consertar. Os assassinos fugiram.
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