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Cresce agressão a mulher em casa
Márcia Pinna Raspanti
Do Diário do Grande ABC
30/06/2002 | 20:21
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Em 1992, uma mulher era espancada a cada quatro minutos; dez anos depois, a cada 15 segundos uma mulher é vítima de maus-tratos. Os números pioraram porque as mulheres denunciam mais, mas também porque os lares se tornaram mais violentos. E, em meio a um quadro que se torna cada vez mais crítico, as casas-abrigo da região – que recebem as mulheres vítimas de violência doméstica que correm risco de vida – fizeram dois anos neste domingo. Sem comemoração.

O diagnóstico de agravamento da violência doméstica contra a mulher é de Márcia Buccelli Salgado, que dirige o Setor Técnico de Apoio às Delegacias da Mulher do Estado de São Paulo. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública, as lesões corporais leves (que impossibilitam as atividades cotidianas por até 30 dias) são as mais comuns. Nos casos de tentativa de homicídio ou de ameaças que indiquem risco de morte, as mulheres e seus filhos precisam deixar suas casas e ser encaminhadas para os abrigos.

A região possui duas casas-abrigo, uma gerida por São Bernardo, e a outra, regional, criada pelo Consórcio Intermunicipal do ABC, e administrada em conjunto pelos municípios de Santo André, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires. Os endereços não podem ser divulgados para proteger as vítimas.

Nos dois anos de existência, cerca de 200 pessoas, entre mulheres e seus filhos menores de 18 anos, já foram obrigadas a se refugiar nos abrigos. A violência existe em todas as classes sociais, mas as mulheres de baixa renda são as que mais recorrem aos serviços públicos.

As agressões notificadas nas casas de atendimento a mulheres em situação de risco são de todos os tipos – espancamentos, agressões leves (tapas e empurrões), tentativas de homicídio, ameaças, estupros e humilhações. “Infelizmente, encontramos de tudo. A violência aumentou muito e as histórias que ouvimos são cada vez mais chocantes”, disse diretora dos Programas de Ação e Cidadania de Diadema, Cormarie Guimarães Peres.

Em Diadema, 12 mulheres procuram a Casa Beth Lobo todos os dias para receber assistência social, psicológica e jurídica. “É um número muito alto. Procuramos incentivar a denúncia e oferecer serviços de qualidade para as mulheres nesta situação”, disse Cormarie.

Submissão – Existem mulheres que convivem com a violência e a humilhação por vários anos, até tomarem coragem e saírem de casa. “Há casos em que a dependência financeira não permite a separação. As causas, porém, são muito mais complexas”, disse a psicóloga Sandra Maria Morales Muniz, que trabalha há dois anos no Centro de Referência da Mulher de Santo André.

Segundo Sandra, a dependência emocional e uma educação que coloca a mulher em uma posição de submissão são fatores que podem explicar, em parte, esse tipo de relação. “São mulheres que já se conformaram com o sofrimento e não tem condições de quebrar uma relação destrutiva. Chega um ponto em que nada mais importa”, disse.

As mulheres agredidas, tanto física como psicologicamente, misturam sentimentos como raiva, dor e submissão. “A relação é doentia. O amor perde lugar para uma situação de manipulação. O homem não pode ser questionado em seu poder e a mulher aceita a posição inferior”, disse a psicóloga.

Os homens agressores, na sua maioria, têm envolvimento com álcool e drogas, ou demonstram ciúme obsessivo. Boa parte deles, contudo, não demonstra temperamento agressivo fora de casa e se comporta normalmente no trabalho, com a família e amigos.

Sandra acredita que não é possível desvendar os motivos que levam um casal a manter um relacionamento baseado na violência. “Ainda precisamos entender melhor a relação homem/mulher para saber um pouco mais sobre estes casos. Enquanto estivermos trabalhando apenas um dos lados, veremos apenas o aspecto chocante do problema”, disse Sandra.




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