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Metade do entulho vai parar nas ruas
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
22/01/2011 | 07:31
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Claudinei Plaza/DGABC


Metade do entulho produzido na região em 2010 foi despejada de forma irregular. Das 231,7 mil toneladas geradas, 113,8 mil foram despejadas em vias públicas e terrenos, enquanto 117,9 mil foram levadas aos pontos de coleta. O total representa em torno de 10,6 toneladas por habitante da região (cerca de 2,4 milhões).

A campeã de descarte clandestino é São Bernardo, que em 2010 contabilizou 86,4 mil toneladas de entulho descartadas de forma irregular. Os dois ecopontos do município - locais destinados especificamente para o despejo destes materiais - receberam apenas 362 toneladas entre agosto e dezembro.

A segunda posição é de Santo André, que teve de recolher 18,9 mil toneladas de materiais descartados clandestinamente. Em contrapartida, nas estações de coleta foram depositadas 86,4 mil toneladas.

Em Diadema, das 39,2 mil toneladas produzidas, 8.400 foram despejadas de forma ilegal. São Caetano gerou 500 toneladas, e teve de recolher 150 toneladas nas vias públicas. Ribeirão Pires informa que em 2010 foram colhidos 12,3 mil metros cúbicos de lixo. A administração não divulgou quanto representou o descarte irregular de entulho. As prefeituras de Mauá e Rio Grande da Serra não enviaram seus números.

A principal consequência do descarte clandestino é o entupimento de córregos e galerias pluviais. "Este material acaba gerando enchente, assoreamento de rios, obstrução de tubulações e de bocas de lobo, entre outros problemas", avalia o ambientalista Virgílio Alcides de Farias, presidente do MDV (Movimento em Defesa da Vida).

A equipe do Diário flagrou ontem o descarte ilegal de lixo na esquina das ruas Oswald de Andrade e Carlos Estevão, no bairro Jordanópolis, em São Bernardo. O local fica ao lado de um córrego, que já está parcialmente tomado pela sujeira. Tijolos, pedaços de madeira e até vasos sanitários fazem parte da paisagem do bairro.

Moradores protestam contra o ‘lixão' improvisado.

"É muito lixo que jogam. A Prefeitura costuma limpar, mas não dá conta devido à grande quantidade", conta o soldador Renato Gomes de Oliviera, 34 anos. Ele relata os transtornos causados pelo lixo. "Vem muito inseto aqui em casa. Sempre aparece sapo." Segundo ele, carroceiros, carros e caminhões particulares deixam o material no local.

Uma comerciante que não quis se identificar revela que já chegou a perder clientes por conta da sujeira. "É o cartão de visita, né? É como usar uma roupa velha e rasgada. As pessoas se afastam."

MOTIVOS
Entre os motivos do descarte irregular está o valor da coleta legal. Para alugar uma caçamba de 4,5 metros cúbicos, o preço médio é de R$ 200 por uma semana.

Nos pontos de coleta das prefeituras, há um limite na quantidade despejada. Geralmente, as estações públicas aceitam até um metro cúbico de entulho, o que equivale a uma caixa d'água de 1.000 litros.

Especialistas defendem reciclagem como solução

Transformar o entulho de problema em solução. Esta é a principal sugestão de especialistas da área ambiental para os materiais de construção descartados.

"Todo o material jogado fora após uma obra pode ser reutilizado. Hoje só se joga fora o que não se quer. Tecnologia existe", ressalta o professor Murilo Valle, coordenador do curso de Engenharia Ambiental da Fundação Santo André. O especialista aponta que o entulho pode ser transformado em tijolos e blocos de concreto, por exemplo.

Segundo o engenheiro, a qualidade do material não é prejudicada após o processo de reciclagem. "Os itens passam por rigoroso processo de testes. Muitas vezes ficam até melhores do que os materiais novos."

Valle destaca ainda que um prédio inteiro pode ser construído apenas com materiais que passaram por um processo de reciclagem.

Para Virgílio Alcides de Farias, do MDV (Movimento em Defesa da Vida), o reaproveitamento também trazbenefícios financeiros. "Para se construir uma usina de reciclagem, o investimento necessário é de R$ 300 mil. Os gastos mensais são baixos". Segundo ele, as prefeituras gastam R$ 75 por tonelada para depositar o entulho nos aterros. "Outra vantagem é o lado social, pois a comunidade pode trabalhar nisso e ter um aumento na renda."

Entre as prefeituras da região, nenhuma pratica a reciclagem dos materiais de construção descartados.




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