As duas principais empresas aéreas, TAM e Gol, já dominam quase 90% do tráfego doméstico de passageiros, enquanto míngua a participação da Varig no mercado doméstico. Apenas entre as décadas de 70 e 80 houve tamanha concentração de mercado no setor. Segundo o especialista Paulo Bittencourt Sampaio, a fatia da Varig deve estar em torno de 2% na primeira semana de agosto – e a empresa já está na quarta colocação, atrás da BRA.
Sampaio estima que na terceira semana de julho, a TAM já havia ultrapassado o nível de metade do mercado (51%) e a Gol chegou a 37,1% – juntas somavam 88,1%. A Varig tinha 4,6% no dia do leilão, peso que deve ter caído praticamente à metade depois da drástica redução da malha da empresa, na semana seguinte à venda. A expectativa do especialista é de que a BRA já passou a Varig, que ficou mais perto da Ocean Air no ranking.
Ele avalia que não é necessariamente nocivo haver duas grandes empresas no setor e chega a citar que se a fusão Varig/TAM, que chegou a ser defendida dentro do governo, tivesse prosperado, haveria hoje uma empresa com mais de 70% de participação – à época, as duas companhias somavam 73%.
Especialistas em defesa da concorrência argumentam que quando a concentração aumenta, cai a competição e os preços sobem. O pesquisador do Nectar (Núcleo de Estudos em Competição e Regulação de Transporte Aéreo), do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Alessandro Oliveira, analisa que no curto prazo situações de duopólio tendem a ser prejudiciais e que num caso de crise na concorrência, como o atual, acaba ocorrendo uma migração de passageiros para as duas maiores e os preços sobem. Inicialmente, a oferta de vôos não basta para atender o avanço da demanda. Mas no médio prazo, acredita ele, a situação do mercado tende a regularizar.
“Depende do que o órgão regulador e o que as autoridades antitruste (de defesa da concorrência) fizerem”, disse Oliveira. Ele explica que se o mercado continuar livre e for permitido o acesso de novas empresas à prestação de serviços, a tendência é de mais empresas disputarem o setor. Quarta-feira, o especialista apresentou um trabalho feito em conjunto com a economista Lúcia Helena Salgado, do Ipea, que mostra que caso a flexibilização das regras do setor na década de 1993 a 2002 não tivesse sido implementada os passageiros teriam pago 11,3% a mais pelos bilhetes aéreos.
Segundo o estudo, este patamar “é relativamente alto e deveria ser considerado quando dos debates quanto à formulação de novas políticas e definição de novos arcabouços para o setor”. Recentemente, executivos da TAM explicaram que o setor é concentrado também em outros países, à exceção, basicamente dos EUA, onde há várias empresas.Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.