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Santo André tem estudantes de cinco anos em sala de lata
Tiago Dantas
Do Diário do Grande ABC
03/12/2009 | 08:03
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Um contêiner de zinco está sendo usado, há dois anos, como sala de aula no Cesa (Centro de Educação de Santo André) do Parque Andreense. O espaço de cerca de 30 metros quadrados abriga 38 alunos com idade entre 5 e 6 anos. Eles reclamam, principalmente, do calor e do barulho que faz o contato da chuva com as paredes metálicas.

"As crianças ficaram o ano inteiro lá passando calor. Se é um dia de sol forte, faz mais de 40 graus lá dentro", afirma a dona de casa Neusa Maria Duarte, 38 anos, mãe de uma aluna do 1º ano do Ensino Fundamental. "Bem que podia ser uma sala de aula mais decente", opina Gecilene Maria França, 41.

A construção do Cesa do Parque Andreense foi anunciada em outubro de 2007, com inauguração prevista para dezembro do ano seguinte. Como não foi possível abrigar os 229 alunos no prédio de alvenaria no início de 2008, a Prefeitura alugou três contêineres. Um está sendo usado como biblioteca, outro como depósito, e um terceiro virou classe.

Os equipamentos foram colocados no meio da Rua Astorga, que é sem saída. Do lado de fora, o contêiner tem duas janelas. Por dentro, são quatro mesas redondas, uma lousa e a decoração natalina. Lá estudam 19 crianças de manhã e 20 à tarde. O Cesa atende 219 estudantes.

"Isso aqui não é condição para um estudante ter aula", admite a secretária de Educação e Formação Profissional Cleide Bochixio. "Mas não dá para colocar as crianças em um ônibus e levá-las para outra escola da cidade."

A secretária afirma que herdou a obra atrasada da administração anterior. "Fizemos uma adaptação para entregá-la o mais rápido possível", diz Bochixio. "Houve atraso na obra, mas ela poderia ter terminado no final do primeiro semestre deste ano", rebate o ex-prefeito João Avamileno (PT). Ele conta que investiu R$ 3,95 milhões, aprovados pelo orçamento participativo.

A Prefeitura de Santo André promete acabar com a sala de lata até fevereiro de 2010. Funcionários da obra, no entanto, admitem que o prazo está apertado. Para o mesmo mês, estão prometidas cerca de 60 vagas para creche. O projeto completo, que prevê auditório, laboratórios e sala de informática, deverá ser entregue apenas no final do ano que vem.

Educadora acredita que podem ocorrer danos à autoestima

Estudar num contêiner pode trazer danos à autoestima do aluno. "Traz ideia depreciativa da escolaridade. A criança pode entender, subjetivamente, que a escola não é valorizada pelo mundo adulto. E isso causa um prejuízo enorme", analisa a professora de educação da PUC (Pontifícia Universidade Católica) Neide Noffs.

A Prefeitura de São Paulo informou que eliminou as 51 escolas de lata, que haviam sido criadas no governo Celso Pitta (1997-2000) em setembro de 2006. O governo do Estado afirmou que, até dezembro de 2010, irá reformar as 20 salas com paredes de metal que ainda existem na rede.




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