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O diabo do regime

A nós mortais, contudo, resta o conformismo mórbido de que ditadores são mesmo assim, cheios de obsessões

Rodolfo Souza
15/09/2016 | 07:07
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O ditador quer explodir o mundo. Como se fosse o dono da bola, tenciona mesmo acabar com o jogo antes que o tempo regulamentar se esgote. Há, inclusive, uma forte suspeita de que deseja ver deserta a várzea só para exercer o seu poder sobre a bola que lhe vai debaixo do braço e sobre o nada bem à sua frente.

De qualquer forma, sosseguemos! É cedo para conjecturar a respeito do final dos tempos proclamado pelo megalomaníaco dos dias atuais. Por enquanto continua, o caudilho, a contar com os preciosos serviços e com o apoio incondicional de um povo que, conduzido pela mídia estatizada, cultiva no peito oriental verdadeira devoção pelo chefe e pela sua mania de guerra. Penso até que passou da hora do soberano se alistar naquele exército que adora praticar o salutar exercício da destruição e da morte. É provável que encontrasse ali a oportunidade ímpar de ver realizados seus sonhos ao ser convocado para missão qualquer que, apesar da dor pungente que sempre oferece de bandeja, também lhe concederia a honra de viver sua derradeira experiência com o artefato. Morreria, pois, feliz e seu eterno sorrisinho seria espalhado para todos os cantos, para depois então se dissipar com o vento.

A nós mortais, contudo, resta o conformismo mórbido de que ditadores são mesmo assim, cheios de obsessões. Alguns se deleitam com a ideia de acabar com o mundo enquanto outros sustentam planos aparentemente menos ambiciosos, embora mais viáveis. São, por exemplo, projetos mirabolantes de deitar fora a presidente para tomar o seu lugar e desfrutar do poder sem depender do voto popular que certamente não conseguiriam. E muitas são as peripécias, verdadeiros malabarismos políticos que cuidam para que tudo resulte bem feito na empreitada. Manobras que, diga-se de passagem, também fomentam os ideais equivocados de uma imensa parcela da população que, como é de praxe neste solo, está cega para os movimentos sinistros que fazem calar a boca da outra parcela que começa gritando, exibindo placas, esperneando e vaiando. Depois se acostuma.

Por certo que sua excelência, o rei que um dia estivera em exercício, sente algum desconforto com todo esse barulho que, embora muito intenso, não chega a arranhar o seu brio ou desarranjar o seu belo penteado.

Reflexões à parte, convenhamos que, tanto aqui como acolá, é tudo culpa do regime. Do regime absolutista, do religioso, da monarquia, da democracia que inglês desacredita...

E, por falar nisso, soube outro dia, que aqui na vizinhança pessoas foram presas porque vaiaram o ditador, facínora que levou o país à bancarrota e o povo à fome. Mas é preciso segurar o poder bem firme nas mãos, a qualquer preço – realidade que permeia a mente ensandecida. Culpa do regime. Fazer o quê?

E os ditadores com suas botas são mesmo iguais no perfil todo ele voltado para o domínio, para a mão de ferro.

Mas aquele tem bomba nuclear! E os nossos têm influência, cara de pau, grana para comprar, bajuladores comprados, velhas ratazanas que fingem passar o poder para as mãos de quem nunca deixou de dedicar-lhes obediência... Pensando bem, acho que uma bombinha nuclear não oferece lá tanto perigo quanto as patifarias legais deste solo idolatrado.

Fazer o quê? É o regime. 




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