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Paranapiacaba vive 'revolução turística'
Cláudia Fernandes
Do Diário do Grande ABC
12/06/2004 | 23:15
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Houve uma época em que o turista de Paranapiacaba era o mochileiro que degradava o meio ambiente, não consumia nada e ia embora no domingo à tarde deixando um rastro de sujeira para trás. A cena faz parte do passado, garantem moradores e Subprefeitura. A duras penas, essa realidade mudou e o turista que vai à vila hoje tem consciência ecológica, pertence às classes B e C e curte um bom papo com os moradores. Gostam de ouvir as histórias que rondam a vila ferroviária inglesa. E o mais importante: a comunidade local não decepciona esse turista e o recebe disposta a fazer com que ele volte na próxima oportunidade.

Desde abril, o escritório regional do Sebrae, em Santo André, desenvolve junto a 11 empreendedores da vila o chamado PDTR (Programa de Desenvolvimento do Turismo Receptivo). Participam dos encontros guardador de carros, donos de pousada e proprietários de restaurantes.

E por mais estranho que possa parecer, a resistência maior do turismo receptivo é do empreendedor morador antigo da vila, diz a consultora credenciada pelo Sebrae de São Paulo, Shirley Suely de Camargo Damu. “Muito disso acontece porque ainda não acreditam neles mesmos. Cada passo que damos é muito importante.”, disse.

“O que acontece é que quando a Prefeitura comprou a vila (há dois anos), os moradores ficaram desconfiados. Pensaram: ‘o novo gestor toma atitudes antipáticas‘. Mas hoje essa desconfiança não existe mais e não há mais resistência”, acredita o subprefeito de Paranapiacaba e Parque Andreense, João Ricardo Caetano.

Por anos esquecidos no topo da serra, os moradores só começaram a ver uma saída para a pobreza e abandono que viviam a partir do momento em que a vila foi encarada como um grande potencial turístico, que em um fim de semana sem chuva, recebe cerca de mil pessoas.

À medida que o perfil do turista foi mudando, mudou também a sua cobrança. “Ele quer qualidade nos serviços”, assegurou Caetano. E os empreendedores que trabalham diretamente com os visitantes são enfáticos em dizer: se o atendimento é ruim, o turista não só deixará de vir da próxima vez como desaconselhará o passeio para outros cinco amigos.

Por esse motivo que desde o guardador de carros precisa ser treinado. “No início dos encontros, ele não entendia porque precisava participar das reuniões. Ele só queria ganhar um troco. Agora entende que ele recepciona o turista, dá informações e noções da história da vila ao visitante”, afirmou a consultora Shirley.

“O trabalho do Sebrae foi uma injeção de ânimo para nós. Todos estão entusiasmados”, disse Zélia Maria Paralego, moradora desde a década de 70 da vila e dona da hospedaria Os Memorialistas.

Zélia foi a primeira a montar uma hospedaria na vila e é um exemplo de boa recepção ao cliente. Em suas duas casas, com capacidade para acomodar 20 pessoas, ela recebe médicos, casais e estudantes universitários. Todos interessados em comer, caminhar, curtir a natureza e dormir bem. Os visitantes aprovam a hospedagem e voltam novamente.

Atualmente, os comerciantes estão preparados para receber estrangeiros. “Aparecem por aqui muitos alemães, holandeses, suíços, suecos, italianos, chilenos. Outro dia apareceu um namibiano. Eu nunca tinha visto um. Todos com boa conversa e muito interessados no patrimônio histórico”, afirmou Doel Sauereronn, dono do SPR (Sopa, Petiscos e Refeições).

“Nossa intenção é discutir com a comunidade propostas para a vila. O que eles querem do lugar. O importante é que esses empreendedores sejam independentes do poder público”, afirmou o gerente da regional do Sebrae, Cláudio Barrios. E os resultados já aparecem, aos poucos. “Estamos fazendo o que nos ensinaram. Caminhando com as próprias pernas”, concluiu Maria do Carmo Machado, que vende bolo no espaço gastronômico da vila.




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