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'Morrer Como Um Homem' é apresentado em mostra
26/10/2009 | 07:04
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Quem lê o título acima pode pensar que o texto é sobre Manoel de Oliveira, o centenário mestre português que exibe na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo seu filme Singularidades de Uma Rapariga Loira, adaptado do conto de Eça de Queiroz.

Oliveira, quando adapta, segue escrupulosamente o original, mas em duas ou três cenas se permite interpretar o texto, mantendo-se fiel ao espírito, senão exatamente à letra de Eça. Oliveira gosta de dizer que o que define o homem é a circunstância. Não há circunstância, e muito menos a idade, que o impeça de ser jovem e livre (de pensamento). O filme de Oliveira passa na quarta-feira. A singularidade, portanto, é de outro autor.

O jovem - em comparação com Oliveira, pois tem ‘apenas' 43 anos - João Pedro Rodrigues é um dos mais transgressivos autores portugueses. Com O Fantasma, ele fez sensação ao abordar o homossexualismo em imagens cruas.

Agora ele apresenta na Mostra Morrer Como Um Homem. Se o tema, eventualmente, pode ser árduo - um(a) velho(a) transexual de Lisboa que vê seu mundo desmoronar -, Rodrigues não facilita em nada a vida do espectador. Cenas longas, muitos diálogos, música (uma canção inteira. No Festival do Rio, um espectador não aguentou e pediu ‘Chega!'). O próprio tom parece oscilar - entre o surrealismo e o naturalismo -, mas é porque a história de Tônia pode mesmo parecer bizarra para muitos espectadores. O filme é A Gaiola das Loucas a sério. Tônia (Fernanda Santos) é a drag doente. Rosário, sua amante, é drogada e há o filho que foi abandonado e agora reaparece como desertor. O rapaz, Zé Maria, é homossexual.

Pior que a doença que a consome é, para Tônia, tentar se reconciliar com a perda da antiga fama. Roberto Carlos compôs uma música que começa assim: ‘Debaixo dos caracóis/dos seus cabelos...' Os caracóis de Tônia, seus cabelos cacheados, são falsos. Parece um detalhe insignificante, mas toda a estética do filme de Rodrigues pode ser vista a partir dessa falsidade.

Pois é do desmoronamento de um universo ilusório que ele fala em Morrer como Um Homem. É, de resto, o desafio de Tônia, que escolheu viver como mulher, mas enfrenta o dilema, ou a necessidade, de morrer como homem. João Pedro Rodrigues começou a estudar biologia porque queria ser ornitólogo. Veio cantar em outra freguesia, o cinema. Morrer como Um Homem foi muito aplaudido na mostra Un Certain Regard, em Cannes.




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