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Emoção marca o retorno às aulas na Alcina
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
29/09/2011 | 07:30
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A volta às aulas na Escola Municipal Professora Alcina Dantas Feijão, em São Caetano, foi marcada pela emoção. A tragédia do estudante Davi Mota Nogueira, 10 anos, que baleou a professora Rosileide Queiros Oliveira, 38, e se matou, deu lugar ao desejo pela paz. Rosas brancas e balões coloridos, além de músicas e orações, foram a resposta dos alunos ao drama que marcou a unidade há uma semana.

Pela manhã, os jovens do Ensino Médio chegaram com rosas nas mãos, mas estavam apreensivos. "Não sabemos como vai ser. Ainda estou chocada, porque ele (Davi) era um menino muito novo. Aos 10 anos eu nem sabia direito o que era uma arma", disse a estudante do 2º ano B.R., 16.

G.S.C., 15, chegou com uma rosa branca na mão e a mãe ao lado. "Tenho certeza de que minha filha terá todo o apoio psicológico, pois a escola é muito boa", disse a professora Elizabete, 49. G. estava ansiosa para entrar e desabafar com os colegas. "Estamos todos feridos, mas precisamos seguir em frente, retomar a rotina, voltar às aulas e às provas."

Equipe de seis psicólogos da Prefeitura estava pronta para ouvir os desabafos dos alunos. "Não planejamos nada especial, apenas vamos ficar à disposição deles e acompanhá-los no que precisarem. Eles vão querer falar, e isso é bom, porque é preciso superar a situação", afirmou Sérgio Mayer, um dos psicólogos. Os professores foram preparados pela equipe nos últimos dias para lidar com a situação.

Não houve aulas na primeira metade da manhã. Os alunos permaneceram no auditório, acompanhados pelos professores e psicólogos. Por volta das 10h, desceram ao pátio externo da instituição, fizeram uma oração e soltaram cerca de 600 balões brancos. Uma mensagem para o estudante foi escrita em uma faixa colocada na grade externa da escola: "Que Deus acolha a alma de Davi e conforte os corações. Família Alcina". 

LÁGRIMAS
No período da tarde, no qual estudam os alunos do 1º ao 9º anos do Ensino Fundamental, a comoção era maior. Davi estava no 5º ano, e muitas das crianças que voltavam às aulas ontem presenciaram a cena da professora baleada e da morte do menino.

As quatro netas da dona de casa Janete Arroio, 65, estudam na Alcina. A.C.A., 12 anos, não queria entrar na escola ontem. No momento em que chegou ao portão, a jovem chorou e abraçou a avó, que teve de acompanhá-la até o pátio. "É preciso retomar a rotina, não tem jeito. Eles sentem, ficam tristes, mas o papel da família é incentivar", disse a avó.

Por volta das 15h40, foi a vez dos menores prestar a homenagem a Davi. Cerca de 720 dos 900 alunos do período da tarde que compareceram às aulas ontem participaram do ato.

Desta vez, os balões eram coloridos e a oração foi substituída por uma música. Num desfecho digno de filme, o vento forte que soprava na região fez os balões seguirem diretamente para os lados do Cemitério das Lágrimas, onde Davi foi sepultado na sexta-feira.

O cartaz colocado pelos alunos do período da tarde na grade externa da escola resumia o sentimento de todos na escola: saudades, e o nome do menino dentro de um coração.

 

‘Ele cumpriu sua missão', disse irmão de Davi 

A professora de Matemática Christiane Romero, 45 anos, levou ontem uma rosa branca para mandar à família do estudante Davi Mota Nogueira, 10 anos, como forma de homenagear o menino. "Os alunos desta escola sempre foram muito unidos. São coisas que não têm como explicar."

Christiane ficou ao lado do irmão de Davi no dia em que tudo aconteceu. "Tentei tirá-lo dali, mas eu estava desesperada, chorando. Ele olhou para mim e disse: ‘Professora, calma. O Davi cumpriu sua missão aqui'." Ela ficou impressionada pela força do jovem. "Eles são uma família evangélica e muito religiosa. Era para eu apoiá-lo, mas aconteceu o contrário."

A.M.D., 9, estuda na sala de Davi. A menina estava sentada na carteira quando viu a professora Rosileide ser alvejada pelo colega. "Foi tão rápido. Só percebemos que era ele quando corremos para fora da sala", contou.

A. passou pelo corpo de Davi, que se matou com um tiro na cabeça após balear a docente. "Ele brincava com a gente. É estranho", falou a menina. Ontem, apenas um aluno da sala - são 22 - do menino faltou.




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