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Cia do Latão revisitada
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
13/08/2008 | 07:02
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A Cia. do Latão comemora dez anos de existência com exposição, workshop e a reapresentação dos espetáculos A Comédia do Trabalho (nesta quarta-feira e nesta quinta-feira) e O Círculo de Giz Caucasiano (de sexta a domingo). Todas as atividades ocorrem no Sesc Pompéia, em São Paulo.

A ocupação do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, em São Paulo, em 1997, é o que o diretor Sérgio de Carvalho toma como ponto de partida para a trajetória da Cia. do Latão. "Em 1996, fizemos o Ensaio Para Danton, mas ainda não como grupo. É sempre algo ambíguo", diz Carvalho, que antes fora professor do núcleo de dramaturgia da Escola Livre de Teatro de Santo André.

O grupo nasceu com a proposta de trabalhar textos de Brecht. E tem se mantido alinhado à linguagem brechtiana e à proposta de oferecer ao público material para o exercício do pensamento crítico. As histórias revelam as contradições da sociedade atual e por meio delas se estabelece o confronto com o status quo.

"Basta sairmos na rua para vermos que o mundo está em conflito", diz Carvalho. "Acho que todo mundo enfrenta um quadro de despolitização, desolamento e descrença na mudança para uma sociedade mais igualitária. O teatro não vem para resolver, mas pode mostrar outras imagens do mundo", afirma Carvalho.

O próprio livro Companhia do Latão - 7 Peças (Cosac Naify, 416 págs., R$ 45), de Carvalho e Márcio Marciano, que reúne os textos de O Nome do Sujeito, A Comédia do Trabalho, Auto dos Bons Tratos, O Mercado do Gozo, Visões Siamesas, Ensaio Para Danton e Equívocos Selecionados, é um instrumento para irradiar esse pensamento transformador. 

Uma eventual modificação desses mesmos textos, na mão de outros encenadores, é vista por Carvalho como uma conseqüência natural. Isso porque dentro da própria Cia. do Latão os textos são criados coletivamente e geralmente sofrem modificações a cada montagem.

"Em A Comédia do Trabalho que apresentaremos agora trocamos a palavra bolchevique, de uma frase, para bolivariano. Isso ainda dá ‘briga' no grupo (risos). Tem gente que prefere a forma original", comenta Carvalho.

O Círculo de Giz Caucasiano, que discute a questão da terra, reaparece agora quase uma hora mais longo que na versão inicial, totalizando quatro horas de montagem. Esta é a menina-dos-olhos do diretor, porque, segundo ele, foi criada com atores de vários grupo, além do Latão. "Tudo foi feito em um ambiente muito criativo. Dentro do conceito de trabalho não-alienante, foi o mais perto que conseguimos chegar", diz. Prova de que o discurso também se aplica à prática na casa.

Aliás, o próximo passo da Cia. será abrigar componentes de movimentos sociais em um espetáculo a ser criado a partir de oficinas com o O Manifesto Comunista, de Marx e Engels, e Os Dias da Comuna, de Bertolt Brecht.

No sábado, das 17h às 19h, a companhia realiza um workshop com apresentação de processos, tendo como convidado o grupo Filhos da Mãe...Terra, do assentamento Carlos Lamarca em Sarapuí, interior de São Paulo.

A exposição, que abre nesta quarta-feira com fotos de diversas montagens da companhia, pode ser vista até sexta, das 10h às 20h e no fim de semana, das 10h às 16h.




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