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O escritor

Um artista que busca, por meio das letras, criar um universo para o qual viaja ansioso o seu leitor, por certo que merece tanta dedicação

Rodolfo de Souza
01/09/2016 | 07:07
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O escritor, embora dotado de imaginação ímpar, não é capaz de imaginar a barbaridade de empenho do qual se valeu toda uma escola que programou recepcioná-lo e prestar-lhe homenagem. Vestiu-se, aquela gente, de entusiasmo nunca visto para se dedicar à festa que preparara com capricho, todinha ela para o escritor. Uns trabalhavam nas alegorias, outros ensaiavam dança e canto para que tudo resultasse certinho, sem nenhuma possibilidade de ocorrer um mico.

O corre-corre e a balburdia tornaram mesmo atípicos os dias que antecederam a visita daquele que, autoridade no assunto, fez voar para longe cada mente leitora que teve um livro seu nas mãos. Por isso, era preciso promover um evento que estivesse à altura dele, um homem que passa seus dias mergulhado num mundo todo ele feito de palavras. Mundo de sonhos ou de realidade, talvez... De qualquer forma, dotado de encantamento único, capaz de fazer estremecer a mente jovem.

E um artista que busca, por meio das letras, criar um universo para o qual viaja ansioso o seu leitor, por certo que merece tanta dedicação. É, afinal, a imaginação daninha do autor que convida o sujeito que lê a deixar o conforto mórbido que a vida corriqueira proporciona, para empreender viagem e se aventurar à procura de outras regiões, outros tempos, outras pessoas, personagens com as quais nutre alguma ou nenhuma afinidade, outras culturas e, deveras, muita ação. Tudo isso e, de sobra, ainda ver sacudida a sua emoção com acontecimentos inusitados que podem facilmente levá-lo às lágrimas, à apreensão, à descontração, ao sorriso... São palavras e expressões escolhidas a dedo que têm o poder de levar toda a magia da literatura até os corações desavisados, desatentos devido à maturidade pouca que ainda não se sujeitou às adversidades da vida. Logicamente que aos antigos também cabe pegar carona neste fantástico mundo, a despeito do seu modo de vê-lo. Com outros olhos, sabe? Olhos experimentados, capazes de enxergar os segredos escondidos nas suas entrelinhas, difíceis e tortuosos caminhos que a mente ainda verde nem sempre consegue notar.

E, com todo esse afã para escrever, aflige-me descobrir, de repente, o quanto me torno suspeito ao exaltar aqui esta homenagem, uma vez que também aprecio sobremaneira este ofício de fazer da palavra a matéria-prima, por meio da qual é possível dar forma a ideias e ideais que certamente viajam pela mente leitora, esta que agora, aqui neste espaço, se dispõe a tomar o lugar do escritor, torná-lo espectador e criar algo para que ele também possa se deslumbrar e, oxalá, se emocionar. 




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