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FHC diz que América perdeu a batalha contra o tráfico
Guilherme Russo
Do Diário do Grande ABC
01/11/2009 | 07:33
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Enquanto as mortes geradas pelo combate ao tráfico de drogas não param de subir nas principais capitais brasileiras - como no Rio de Janeiro, que registrou mais de 40 mortes em outubro - quem estuda o assunto já sabe: essa guerra é inútil. Como primeiro passo para a formulação de uma política alternativa ao confronto, o sociólogo e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) defende a descriminalização do consumo da maconha.

Em entrevista exclusiva ao Diário, FHC declara que, historicamente, a guerra contra as drogas já está perdida, da maneira que vem sendo feita. "No Rio estão matando sem parar. Culpados, inocentes... Aqui no Brasil não tem pena de morte. Tem morte sem pena", conclui.

"Tem que mudar o foco. A pura repressão não resolve. A droga faz mal. A coisa é séria, e não adianta tapar os olhos. Temos que analisar e ver o que fazer", explica. Segundo FHC, a descriminalização da erva deve vir acompanhada de campanhas educativas sobre os efeitos desta e de outras drogas.

Com a descriminalização da maconha, a sociedade brasileira começaria a discutir o assunto como nunca fez antes. Assim, de acordo com Fernando Henrique, o País poderá encontrar uma alternativa para erradicar o problema das drogas.

Sem consciência plena do assunto, a sociedade nunca será capaz de estigmatizar as drogas como, por exemplo, já fez com o sexo desprotegido, nas campanhas de prevenção à Aids dos anos 1990. "A classe média ainda não estigmatizou o uso da droga", afirma, acrescentando ainda não houve uma discussão ampla na sociedade.

Para FHC, o usuário de drogas deve ser tratado como um doente, não como um criminoso. E essa consciência pode ser gerada pela descriminalização da maconha e as subsequentes campanhas de prevenção ao uso. "É preciso não perder de vista que a droga faz mal. É um dano. Tem que se tratar o usuário como paciente", diz.

A descriminalização da erva também acaba com a violência que os usuários sofrem quando são pegos pela polícia e extorquidos.

Mas por que a maconha não foi descriminalizada durante os oito anos em que teve essa oportunidade na presidência? "Não é que eu tenha mudado de postura. Eu não tinha a informação que tenho hoje. E quando estava no governo criei a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas). Qual a função dela? Preventiva", justifica.

O ex-presidente atribui as novas informações que obteve sobre o assunto a sua participação na Comissão Latino-americana sobre as Drogas. Encabeçada ainda pelos também ex-presidentes César Gaviria, da Colômbia, e Ernesto Zedillo, do México, a entidade formulou a proposta de descriminalização da maconha, que foi apresentada à ONU (Organização das Nações Unidas).

E FHC vai além: apenas a liberalização das drogas poderia acabar de vez com a violência do tráfico. Mas esse seria um segundo passo, a ser tomado depois da descriminalização e de campanhas educativas.




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