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Maicon Siqueira revela mágoa com CBTKD após bronze

Lutador do taekwondo de São Caetano diz que confederação do esporte nunca deu apoio na preparação para os Jogos Olímpicos

Felipe Simões
Do Diário do Grande ABC
29/08/2016 | 07:25
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Em abril de 2015, o Diário publicou com o título “Contra tudo e todos, Maicon de Andrade” uma reportagem com o lutador de taekwondo Maicon de Andrade Siqueira, então com 22 anos, que conquistou o bronze na categoria acima de 80 kg nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Na ocasião, o jornal retratou a história de Maicon (leia mais abaixo), que faz parte da equipe de São Caetano, e uma possível disputa com Anderson Silva por uma vaga na Olimpíada.

De lá para cá, muito mudou: Spider acabou desistindo de retornar ao esporte e o mineiro de Belo Horizonte conseguiu vaga e a glória olímpica. Mas um fato permaneceu inalterado – a CBTKD (Confederação Brasileira de Taekwondo) não deu suporte ao atleta, que, apesar de feliz pela conquista, guarda mágoas dos dirigentes.

“Sempre acreditei no meu sonho. Minha inspiração era a força de vontade de cada um, que às vezes passava por dificuldade e não tinha dinheiro da passagem (para ir ao treino). Um estava apoiando o outro em tudo. A gente (equipe de São Caetano) é uma família. Um ajudando o outro para todos conseguirem chegar ao objetivo”, afirmou Maicon, que criticou a falta de suporte por parte de quem administra seu esporte no País.

“A confederação não me apoiou. A única vez foi em 2014, com a Lei Agnelo/Piva (parte dos recursos de loteria destinada ao incentivo ao esporte), e agora, em cima da hora. E nesses últimos meses não adianta, uma preparação não começa faltando meses, e sim anos. Isso atrapalhou muito minha programação”, reclamou o lutador de São Caetano.

E não parou por aí. A entidade ainda impediu que o técnico de Maicon, Cleiton dos Santos, pudesse acompanhar o atleta nos Jogos Olímpicos, designando outro treinador – Júnior Maciel, do Amapá – para a função.

“A confederação cortou meu técnico na reta final, isso atrapalhou ainda mais. Tive que sentar com um técnico que não era meu, que não me conhece, que não treinava comigo. Tive que fazer treino com meu técnico por WhatsApp. Isso me estressou bastante. Fiquei com muita raiva na Vila Olímpica”, chiou.

“Não posso prever qual seria minha medalha com ele (Cleiton), mas ele comigo era muito importante. Se ele estivesse lá poderíamos ganhar o bronze levando a luta de outra maneira”, afirmou Maicon.

O lutador, que se considera um dos melhores do mundo, tem um objetivo para Tóquio-2020: trazer o ouro.

“Acredito (ser um dos melhores lutadores do País e do mundo). Manter bronze não, isso é para derrotado. Você tem que entrar para buscar o ouro”, projetou. “Que o taekwondo seja visto como esporte que traga medalhas. Mostrei que o taekwondo está vivo”, completou ele, que ainda não sabe se disputará os Jogos Abertos do Interior, em São Bernardo, a partir do dia 10. 

O Diário apurou que ele deve somente acompanhar os companheiros e ganhar folga de competições, por enquanto.

Atleta já pensou em desistir do esporte

O bronze conquistado por Maicon fica ainda mais reluzente e tem gosto de ouro se colocado no contexto de sua vida. Caçula de oito irmãos de família pobre, o mineiro de Belo Horizonte precisou parar de estudar para complementar a renda da família. Fez bicos de garçom e segurança para ajudar seu Sinval e dona Vitória a botar comida na mesa da família. A mãe, aliás, foi uma das principais incentivadoras da carreira do filho e não deixou ele desistir quando, em 2013, já defendendo São Caetano após passagem por Jundiaí, ela sofreu um câncer de mama, do qual se recuperou plenamente.

“Quando minha mãe estava com câncer, eu fui para Minas e queria parar com o taekwondo. Me marcou muito chegar no hospital e ver minha mãe na maca sem cabelo nenhum. Ela falou: ‘Meu filho, não quero que você desista por causa da minha doença. Vou superar isso tudo e vou estar na Olimpíada vendo você lutar’. E fiz a promessa: ‘A senhora vai se recuperar e eu vou estar nos Jogos e vou ganhar medalha para pôr na senhora. Consegui realizar esse sonho. Não tem coisa melhor na face da Terra do que conseguir realizar meu sonho e cumprir com a minha promessa”, lembrou. “Ela nem conseguia falar, eu também não. Eu agradeci muito. Ela não conseguia falar. Chorando, falei que consegui realizar meu sonho”, contou Maicon.

“Minha força de vontade e as dificuldades que tive me motivam todos os dias a poder entrar aqui (no treino) e ser melhor que eu fui ontem”, completou o determinado lutador.

Fora dos treinos e das lutas, ‘Maicão’ gosta de passear e assistir a filmes

Quando está de folga, Maicon vira Maicão. E nem pense em conversar com ele sobre taekwondo, que o assunto será dispensado rapidamente. Afinal, são seis dias de treino em dois períodos – “pauleira”, em suas próprias palavras.

“Fora o taekwondo, eu sou o Maicão, um cara bem feliz e brincalhão. Procuro ir no shopping, passear, assistir a um filme, ver um Netflix. Quando dá um tempo maior, vou a Belo Horizonte curtir com a família”, afirmou o lutador, que quer continuar os estudos interrompidos em 2015, quando cursava Geografia na Anhanguera. Agora, ele almeja os cursos de Educação Física e Gastronomia.

“Cozinho mais lá em Minas para minha mãe. Não tenho especialidade (risos). Mas eu prefiro deixar ela (mãe). Comida da mãe é a melhor de todas”, brincou ele, que está solteiro. “Estou tranquilo”, concluiu.




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