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Vizinho do Polo, Capuava é agradável
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
26/09/2011 | 07:30
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Claudinei Plaza/DGABC


Quando se fala no Parque Capuava, na divisa entre Santo André e Mauá, logo se pensa no Polo Petroquímico. No entanto, quem entra no bairro percebe que a vida no local não é restrita às indústrias de gás e combustíveis. A área tem forte característica residencial, além do comércio variado, concentrado principalmente na Rua Evangelista de Souza.

A infraestrutura disponível aos moradores é satisfatória. O bairro é atendido por cinco linhas de ônibus municipais andreenses, além da estação da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. Também passam por lá coletivos intermunicipais com destino à Capital

Por não ter sido tão atingido pela especulação imobiliária, o bairro conserva muitos moradores antigos. Nas ruas, largas e com bom estado de conservação, o que mais se vê são casas térreas e sobrados. Quem mora na região há pelo menos duas décadas ainda mantém hábitos que atualmente são pouco vistos em localidades mais adensadas. "Tem amigos meus que, quando vêm me visitar, estranham ao ver a quantidade de pessoas no portão ou na janela de suas casas, conversando como antigamente. Muitos até deixam as portas abertas", relata o comerciante Cláudio Pecchia, 51 anos, que mora no Capuava desde que nasceu.

Dono de avicultura, ele avalia que seu comércio já não se encaixa mais no perfil exigido pelos consumidores. Basicamente, sua clientela é formada por consumidores antigos. "Infelizmente, meu ramo está ultrapassado. Depois que começaram a chegar os supermercados, eu comecei a perder muito cliente. Não tem como fazer concorrência ao preço cobrado por eles", lamenta. Pecchia avalia que, desde que abriu o seu comércio, há cerca de 30 anos, o número de compradores foi reduzido pela metade.

Apesar de elogiarem o sossego e a localização do bairro, grande parte dos moradores se queixa dos problemas em decorrência da proximidade com as indústrias químicas.

"É difícil achar alguém aqui que não tenha problemas respiratórios. Nos dias secos, sobe uma poeira preta que suja tudo e nos deixa com muita alergia", relata o jornaleiro Sidnei Gonzales, 38.

Outra queixa comum relacionada ao Polo é o barulho gerado pelas máquinas, principalmente durante à noite. A vizinhança salienta, no entanto, que, com o passar dos anos, o costume faz com que os ruídos deixem de ser um incômodo.

O jornaleiro garante que, mesmo com o manuseio de produtos inflamáveis no interior das indústrias, não tem medo de possíveis explosões ou incêndios. "Eu já trabalhei lá dentro e sei que há muita segurança. Mas é comum ter gente que fica um pouco com o pé atrás, principalmente quando vê as chaminés ligadas."

 

População comemora diminuição da violência 

Moradores do Parque Capuava avaliam que a principal melhoria do bairro ao longo dos anos foi a queda na violência. Morador do bairro desde que nasceu, o comerciante Agnaldo Casado, 45 anos, é dono de um bar desde 1992.

"Antigamente, quando você dizia que morava no Capuava, o pessoal já tinha uma má impressão. Poucos vinham me visitar. Isso aqui era pior que o Heliópolis", lembra, referindo-se à favela localizada na Zona Sul da Capital, próximo à divisa com São Caetano.

O comerciante avalia que a violência diminuiu conforme o bairro foi sendo urbanizado. "Antes morava pouca gente por aqui, quase não tinha ninguém na rua. Então, isso acabava atraindo muito a bandidagem. Mas hoje não posso reclamar, isso aqui está um espetáculo", finaliza.

 

A passagem do trem semeia o bairro 

Graças ao trem, Capuava começou a ser urbanizada. Os trilhos cortavam o vale do Rio Tamanduateí desde 1867, mas só em 1920 (15 de setembro) foi aberto no local um posto telegráfico pela Estrada de Ferro São Paulo Railway. A meio caminho entre os pólos urbanos de Santo André e Mauá, o posto fiscal foi promovido à estação em 1937 (5 de março). Na sequência, a abertura dos primeiros loteamentos.

O primeiro loteamento urbano ocorre na década de 1940, no hoje município de Mauá; o Parque Capuava, de 1957, já no território de Santo André, é uma sequência do Capuava original. Sua divisão inicial teve 1.492 lotes, com a média de 400 metros quadrados cada um. Nos dois casos, entre os proprietários/loteadores, aparece a família paulistana dos Alcântara Machado. 

DEPOIMENTO
"O loteamento começou com 26 carroças e 32 animais que abriram as ruas 6 (atual Vereador Pedro Amadeu), 7, 11, 19 e Avenida 2. Também foi retificado o Rio Tamanduateí, que era todo torto e transbordava", contou Antenor Henrique Ferreira, o Bigode, que entrevistamos em 1976.

Para o loteamento foram trazidos operários que trabalharam na Vila Prosperidade, também propriedade dos Alcântara Machado. 

DEPOIMENTO 2
"Na estação de Capuava os trens paravam só de manhã e à noite", explicou Antonio Poletti, nascido em Capuava e que nós ouvimos também em 76.

Outra opção de transportes era o ônibus, mas a pioneira Empresa Capuava apenas foi criada em 1935. Suas jardineiras interligavam o bairro a São Paulo, passando por Santo André/Utinga e São Caetano. 

DEPOIMENTO 3
"O pão e leite, trazidos por uma carroça, só chegavam quando não chovia. Nos dias de chuva as ruas - que na sua maioria ainda não eram calçadas em 1976 - ficavam intransitáveis", afirmou Emília Silvia Guimarães, esposa do Dedé. A família chegou em 1949, atraída pelo lote no subúrbio e pela industrialização.

Nos anos 1950 começaria uma nova fase em Capuava, primeiro com a implantação da Refinaria de Petróleo União, hoje Recap, do Sistema Petrobrás; depois com a expansão do Pólo Petroquímico, 1970 em diante. (Ademir Medici)




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