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Rita Lee lança novo CD 'Balacobaco'
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
28/10/2003 | 18:55
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Rita Lee é do balacobaco. Literalmente. Com 38 anos de estrada na música, a veterana do rock mostra que “tem borogodó” injetando sua peculiar irreverência no 31º CD da carreira, não por acaso batizado como Balacobaco (Som Livre, R$ 25 em média).

O novo CD é tão variado quanto sugere a diversidade dos elementos do relicário reproduzido na capa. Rita Lee preserva o rock como essência, mas bebe na fonte da música eletrônica, da popular, dos Tribalistas. “A linguagem é pop. A identidade autoral/musical é totalmente Lee/Carvalho”, diz Rita Lee, fazendo referência ao marido, que é seu parceiro no trabalho há 27 anos.

O olhar de Rita passeia por paisagens e personagens urbanos, pela praia de Copacabana, pelos sentimentos universais. Não traz desta vez trocadilhos infelizes. Cria, pluraliza. Vem de um texto do cineasta Arnaldo Jabor, por exemplo, a inspiração para a letra de Amor e Sexo, que abre o disco. “Amor é latifúndio, sexo é invasão”, sentencia.

De forma inusitada, recolhe uma música de Moacyr Franco que deve causar polêmica já a partir do palavrão no título e na conclusão do pensamento do autor. Ele mal acreditou quando Rita Lee ligou em seu celular dizendo que adorou a composição e que já a havia gravado. Pensou que teria um segundo derrame na vida.

“Moacyr foi meu herói quando cantava ‘hey você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí?’. Em dezembro de 2002 fui para Buenos Aires e cantei para vingar o FMI numa versão assim ‘hey FMI, dá-me uma guita ahi’...Mestre Moacyr diz que quando véio se mete a fazer rock’n’roll, é isso aí, bixo!”

Até os Tribalistas deram seu quinhão. É de Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Dadi Carvalho a romântica Já Te Falei. Sem muito esforço, dá até para imaginar Marisa Monte interpretando a canção com sua voz suave e aguda, como no CD do trio, que foi tão amado e odiado ao mesmo tempo.

Como não poderia deixar de ser, Rita Lee mais uma vez homenageia sua amada São Paulo. Não sem reverenciar o outro amor, o Rio. A primeira é feita com As Minas de Sampa e a outra, com Copacabana Boy.

“Dos seis aos nove anos de idade fui boicotada em um colégio francês onde estudei. Acontece que eu fazia questão de escrever redações sobre as infinitas belezas cariocas com relação ao horrendo ‘Banco do Estado’, o edifício mais alto da América do Sul. Saia justa tanto na ponte Rio-Niterói quanto no Viaduto do Chá”, diz Rita Lee.

Enquanto em Copacabana Boy ela mantém a bênção dos céus garantida desde a famosa Menino do Rio, em As Minas de Sampa ela dá a chance às garotas da paulicéia de vingar a homenagem que Gilberto Gil fez às suas jovens conterrâneas em Toda Menina Baiana. A roqueira canta: “As mina de Sampa conhecem a Bahia, por fotografia, que natureza! Toda menina baiana vive na maior moleza. As minas de Sampa dão duro no trampo, no banco, mãos ao alto!”.

E é com música eletrônica que ela embala o desdobramento do triângulo amoroso criado por Roberto e Erasmo Carlos em A Namoradinha de um Amigo Meu. Agora, quem entra em cena é A Fulana.

“Outro dia tava ouvindo essa música e viajei na maionese do que seria a mesma história narrada sob o ponto de vista da personagem-título. O que realmente aconteceu nos bastidores daquela adorável novelinha de Roberto e Erasmo Carlos? Descobri que no final a namoradinha ficou mesmo com o amigo do ex. Bem feito! Ninguém mandou o ex trocar a namoradinha por uma fulana qualquer”, disse a cantora, na descrição de seu disco.

Balacobaco ainda tem faixas como Over The Rainbow e Hino dos Malucos, essa última feita na medida para o casal “normal” Rui e Vani. A autoria fica dividida entre os casais Fernanda Young/Alexandre Machado e Rita Lee/Roberto de Carvalho. Não é a melhor das músicas, mas serve para embalar a trama levada aos cinemas.

Vale destacar o relicário feito por Inés Zaragoza para a capa do disco, e cuja estética deverá inspirar a cenografia dos shows. “Essa menina é especialista em meiguice, no mundo de fadas, em santinhos. Eu sou daquelas que compra todos os relicários que me aparecem pela frente. De uns tempos pra cá só quero relicários Inés”, diz Rita.

Balacobaco deve ganhar os palcos a partir de janeiro. Nada, até lá, vai desviar as atenções da roqueira. Nem o projeto de voltar a dividir os palcos com Gilberto Gil, com Refestança. “A história entrou por uma porta, saiu pela outra e quem quiser que conte outra”, diz. A boa é que o intervalo é tempo suficiente para decorar todo o CD. Afinal, Balacobaco é um pop decente e altamente cantarolável.




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