D+ Titulo Se vira
Depoimento de quem viveu várias experiências
Denis de Marchi
Do Diário do Grande ABC
06/11/2011 | 07:00
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Denis de Marchi/DGABC


Se há algo em que todos os praticantes concordam é a de que a experiência é inesquecível. Confira o depoimento de De Marchi, designer do D+ e fã desses cursos:

"A primeira vez em que ouvi falar de cursos de sobrevivência, virei a cara. Cá entre nós: é preciso ser maluco para entrar no mato e bancar o Rambo, não é? Nem tanto. O contato com a natureza em estado bruto ensina sobre nós mesmos, nossos limites e a capacidade de superação. Só descobrimos do que somos capazes quando estamos em uma situação em que cada decisão faz a diferença entre sobreviver e ... voltar para casa sem o certificado.

Fiz meu primeiro curso em 2001 e até hoje sonho com aqueles momentos. Um amigo das Forças Armadas me convidou para acompanhá-lo e resolvi experimentar. Confiei em sua experiência, sabia que ele havia feito pesquisas de idoneidade e segurança e fui em frente (hoje, com o Google, é mais fácil pesquisar em blogs por referências e opiniões).

Uma das coisas mais importantes na hora de escolher o melhor curso é saber quais são focados em eco-aventura (como trilhas) e quais são os mais indicados para militares ou profissionais, como os feitos para comissários de bordo. As exigências e as técnicas empregadas variam. Um militar, por exemplo, não precisa se preocupar com salto alto, da mesma forma que uma aeromoça não poderá contar que em seu avião exista uma superfaca com mil e uma utilidades. Avalie bem quais são suas necessidades - pode fazer a diferença entre uma experiência traumática e uma lição de vida.

Meu primeiro curso começou com a parte teórica, quando aprendemos sobre navegação (muito importante em um ambiente onde não temos grandes referências), uso das cordas, comportamento de grupo, primeiros socorros e, principalmente, sobre o que não fazer, levando em conta que a maioria dos incidentes ocorre por imprudência ou abuso. Na selva, você é o invasor e convém respeitar os donos do lugar.

No fim de semana, iniciamos a jornada. Partimos rumo à Jureia (litoral sul de São Paulo) e fomos deixados às margens do gigante verde. Iniciamos a caminhada sob os olhares dos instrutores, que inicialmente não interferiram em nossas decisões. Andamos com muita dificuldade e lentidão pela mata fechada por aproximadamente 40 minutos, contando apenas com a bússola. O instrutor ria e logo saberíamos o motivo. Ouvimos um zumbido: encontramos a rede de transmissão na margem da estrada - a mesma onde começamos a caminhada. Andamos em círculos por quase uma hora! Eis a importância do teórico.

Encontramos uma pequena clareira e montamos acampamento. Perto de uma fonte de água, um córrego, mas longe o suficiente para evitar os animais que circulam em suas margens, a nuvem de pernilongos e o risco de enchente (o nível dos cursos de água pode subir rapidamente, sem que haja tempo para salvar os suprimentos ou a si mesmo).

Fazer fogo em mata úmida é um desafio à parte. Como encontrar madeira seca onde tudo é tomado por plantas e o Sol mal toca o solo? Tudo depende de manter a calma, trabalhar em grupo e nunca esmorecer. Na selva, tudo é diferente. O corpo muda, os sentidos afloram, as reações são imediatas. Toda atenção é focada no ‘aqui e agora'. Você depende dos colegas e vice-versa. Não é exagero dizer que é uma experiência tranformadora.

Quem deseja fazer o curso deve saber que há riscos reais e desconfortos, mas a chance de buscar a fonte da coragem vale o sacrifício. Passei por situações de grande perigo, beirei à hipotermia (a queda da temperatura corporal) e ultrapassei todos os meus limites - fiquei várias vezes no final da fila, mas sempre à frente de mim mesmo. Se valeu a pena? Não vejo a hora de fazer de novo!" 




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