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'Literalmente, sumiu o nosso chão', diz médico
Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
24/02/2012 | 07:58
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Arquivo pessoal


Médico angiologista e cirurgião vascular, Robson Barbosa de Miranda, 46 anos, saiu dez minutos antes de ter o seu consultório totalmente destruído no Edifício Senador, localizado na região central de São Bernardo. O profissional trabalhava na sala 64, onde estavam Júlia Moraes, 3, e a enfermeira Patrícia Alves Faria de Lima, 26, que morreram soterradas há 18 dias com o desabamento parcial do prédio comercial na Avenida Índico, 30.

"Literalmente, sumiu o nosso chão", desabafou o médico à equipe do Diário, ontem pela manhã, durante entrevista concedida em uma sala da APM (Associação Paulista de Medicina) - regional São Bernardo e Diadema. Ali, o cirurgião vascular encontrou apoio emocional e espaço físico para o recomeço - uma linha telefônica foi disponibilizada para o agendamento de consultas e na segunda-feira os exames vasculares começam a ser realizados nos pacientes.

Após vários pedidos para a entrevista, desde a fatídica noite do dia 6, o médico resolveu atender ao jornal. Nesse momento, refeito emocionalmente. "A minha vida está assim... Virou de cabeça para baixo", reforçou, enquanto era interrompido pela assistente.

No prédio, atualmente lacrado pela Defesa Civil, esteve por 18 anos, 15 deles na sala 64 - todos os imóveis de final 4 foram destruídos. "Naquela noite, deixei o consultório às 19h30. Recomeçava o curso de inglês. O acidente ocorreu às 19h40", afirmou. O médico também alugava as salas 21 e 22, onde eram realizados os exames cardiovasculares.

Era na sala 64, com 80 m² subdivididos em vários ambientes, que a médica integrante da equipe de Robson atendia a mãe da pequena Júlia. Na recepção, além da criança, o pai e a enfermeira Patrícia. "A partir de um forte barulho, vidros se quebraram e tudo veio abaixo", lembrou o médico, que ouviu os testemunhos da colega e de uma funcionária.

A médica, que não permitiu a publicação do seu nome, e a mãe da criança ficaram presas nas duas salas parcialmente destruídas. "O resgate se deu por um buraco, entre as salas 64 e 63, feito pelos bombeiros", disse o médico. Porém, Patrícia, Júlia e o pai foram sugados pelo rombo que se abriu no centro - o homem seria encontrado mais tarde, no subsolo, com vida e enviado a hospital particular.

Enfermeira morta tinha trocado de lugar com recepcionista

Todos os dias a jovem Aline Alves Dantas, 26 anos, ficava sentada na recepção da sala de espera 64. Na fatídica noite, a recepcionista trocou, por alguns minutos, com a enfermeira Patrícia Alves Farias de Lima.

"Só ouvi um barulho e o teto começou a cair, até mesmo a televisão que estava pendurada", lembrou Aline, que há dois anos trabalhava na clínica do médico Robson Barbosa de Miranda.

Ela afirmou que, na hora, não conseguiu ver nada - as luzes se apagaram. "Mal dava para respirar. Levantou muita poeira", relatou, ainda abalada. No momento do acidente, ela estava no corredor de entrada da sala. Havia retirado os plásticos das novas cadeiras que seriam repostas no consultório.

A descida para o térreo, depois de muito custo, se deu pela escada. Com trauma cervical, Aline foi levada ao Hospital Mário Covas, em Santo André. "A Júlia só sentou no sofá, junto do pai, quando pediu para eu colocar no ‘Todo Mundo Odeia o Chris' (seriado da Record)." Depois, não viu mais nada.




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