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Contar histórias serve como terapia, diz estudo
Malu Abib
Da Redaçao
28/10/2000 | 18:53
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O Método Terapêutico de Scheerazade - Mil e uma Histórias de Loucura, de Desejo e Cura (Iluminuras, 221 págs., R$ 30) é um livro no qual a médica terapeuta Purificacion Barcia Gomes tenta traçar um paralelo entre a história milenar da princesa Scheerazade, que contou as histórias das Mil e Uma Noites, e a psicologia.

  O mito conta que quando o sultao descobre que a rainha o trai com um escravo, decide se vingar de todas as mulheres de seu reino. Sendo assim, ele escolhe as moças virgens para se casar e as mata em seguida para nao correr o risco de ser traído novamente, revivendo sua dor.

  Uma jovem, conhecida por sua inteligência e vasta cultura, pede ao seu pai, o vizir, para que a deixe se casar com o sultao, mesmo sabendo de seu provável destino. E, na tentativa de salvar as moças de seu reino, segue serenamente para o matrimônio com uma idéia em mente: contar histórias para distrair o sangüinário homicida.

  Consumado o casamento, Scheerazade começa a contar incríveis narrativas para o sultao Scharyiar e sobrevive à primeira noite, graças à técnica, muito utilizada em telenovelas, de deixar o melhor da trama para o "próximo capítulo", aguçando a curiosidade do interlocutor.

  Segundo a autora, o sultao sofria do que se pode chamar de "doença psicogênica após a ocorrência de um trauma" e que, com a longa intervençao de Scheerazade, teria se curado, recuperando a confiança nas pessoas e em si próprio.

  "E já que falamos em poder mutatório da palavra, é curioso que, no Cairo medieval, segundo um registro do século XVIII, haja evidências de um asilo para doentes mentais, no qual se usavam narrativas como propósitos terapêuticos", argumenta Purificacion.

  O livro, apesar do charme que o título oferece, nao é recomendável para os que procuram mero entretenimento, justamente pela insistência da autora em comprovar as técnicas terapêuticas utilizadas por Scheerazade.

  Os bons momentos ficam por conta dos registros sobre as culturas muçulmana e judaica, com os quais o leitor poderá se surpreender pelas características liberais distantes da realidade atual: "Essas personagens (judias), embora nao fossem muçulmanas, têm muito a nos ensinar sobre a mentalidade da época, visto que tomavam parte ativa na comunidade, eram profissionais respeitados, falavam a língua árabe (às vezes a redigiam em caracteres hebraicos) e eram completamente assimilados."




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