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Entre o ouro e o desabafo, o choro
Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
10/08/2016 | 07:00
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Do ouro da judoca Rafaela Silva ao desabafo da nadadora Joanna Maranhão, os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro apresentaram – em dois dias – situações opostas, mas ao mesmo tempo repletas de coincidências de duas atletas que tiveram de passar por muitas situações complicadas na vida para chegarem onde chegaram. Ambas choraram. A primeira, de alegria. A segunda, buscando o alívio. Mas, no fundo, o sentimento era o mesmo: estarem ali representando da melhor maneira a Bandeira Brasileira que carregavam no peito.

Filha da Cidade de Deus, comunidade imortalizada pelo filme de mesmo título que fez sucesso internacional em 2002, Rafaela Silva não merecia apenas esta medalha de ouro. Afinal, é vitoriosa em diversos segmentos desde a infância por ter crescido na favela, ser mulher, negra, pobre e – há quem diga – homossexual. Desta maneira, muitos que a viam aos 7 anos jogando bola no campo de terra em Jacarepaguá não vislumbravam futuro para esta Silva que tão bem representa os brasileiros.

Ou seja, apesar da busca diária pela igualdade, ainda são bem presentes na sociedade a discriminação, o racismo, o preconceito. Ela própria viveu isso após a eliminação na Olimpíada de Londres-2012 por conta de golpe considerado ilegal. Chamada de ‘macaca’ e acusada de aproveitar a ocasião para “viajar de graça” à Inglaterra, deu a volta por cima e ao subir ao pódio no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, a dez minutos de onde mora, chorou.

Já a pernambucana Joanna Maranhão, oito vezes medalhista Pan-Americana e dona de personalidade e opinião fortes, não passou das fases eliminatórias da natação na Rio-2016 e logo após deixar a piscina desabafou à imprensa sobre a enxurrada de ofensas que recebeu via redes sociais nos últimos dias pelo desempenho, opinião política etc. E chorou.

“O Brasil é um País machista, racista, homofóbico, xenofóbico. Não estou generalizando, mas essas pessoas existem, infelizmente”, afirmou ela, que em 2008 revelou ter sofrido abuso sexual do antigo técnico, quando ainda tinha 9 anos. “Me orgulho muito da minha trajetória, da minha história. Não é que esse tipo de mensagem vai me fazer parar de nadar ou desistir. Mas machuca, dói”, disse Maranhão, que ainda citou Rafaela Silva em seu discurso. “Há quatro anos, em Londres, a galera esculachou com ela. Macaca, não sei o quê...Quatro anos agora e a Rafaela se torna heroína. Mas a Rafaela já era heroína. Desde o momento em que ela pegou a oportunidade de fazer judô. Do jeito dela, daquele jeito que ela diz que é”, pontuou.

As condições social, econômica, política, sexual ou seja lá o que for não deve se sobrepor ao mérito que ambas já tiveram ou colhem no esporte. Isso é fruto de muito suor, treino, luta. Mas bom-senso e olhar para o próprio umbigo nunca é demais.




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