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Vila de Paranapiacaba é retrato do descaso
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
17/12/2010 | 07:42
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André Henriques/DGABC


Mesmo com a chegada das férias e o Expresso Turístico em funcionamento, a Vila de Paranapiacaba, em Santo André, está praticamente abandonada. Falta de energia, cães deixados nas ruas e casas sem manutenção afastam turistas.

A aposentada Jacira de Andrade, 65 anos, é uma das que ainda visitam o local. Ela mora em Santo André e costuma correr na vila. De uns tempos para cá, ficou impressionada com o número de cachorros abandonados que encontra durante o treino. "Eles estão doentes, muitos com sarna e perdendo o pelo", garantiu.

Para quem mora em Paranapiacaba e depende do turismo, o abandono é prejudicial. O comerciante Antonio Fernandes, 57, é dono de um bar e afirmou que, de dois anos para cá, o movimento caiu 70%. "Os cães atrapalham. Um dia chegou a ter dez de uma vez incomodando os clientes", disse.

O Diário esteve ontem na histórica vila inglesa e constatou o excesso de cachorros abandonados nas ruas. Com a chuva que caía, cinco animais se abrigavam sob uma tenda no Largo dos Padeiros, conhecido por sediar shows durante o Festival de Inverno e outros eventos. Um dos cães estava com sarna e se esfregava nos outros, com risco de passar a doença. Ao andar pelas ruas da vila é possível encontrar muitos outros animais vadiando em busca de comida.

ENERGIA
Enquanto sobram bichos abandonados, falta energia em Paranapiacaba. Nas proximidades da pousada Cantinho do Sossego há uma única lâmpada, que fica acesa mesmo durante o dia, para iluminar o caminho dos hóspedes de Genilson José Costa Lima, 46. "Recebi algumas ligações de gente querendo se hospedar aqui nas férias, mas os clientes reclamam da falta de iluminação", afirmou.

MUDANÇAS
O secretário de Gestão de Recursos de Paranapiacaba e Parque Andreense, Eduardo Sélio Mendes, garantiu que esse problema será resolvido em 2011, quando a Prefeitura deverá investir R$ 2 milhões para a troca de todo o sistema de iluminação da vila.

Mendes afirmou ainda que, em janeiro, Paranapiacaba receberá campanha de conscientização sobre abandono de animais. "Muitos cães têm donos, que serão orientados sobre posse responsável. Também vamos incentivar os moradores a denunciar abandono de animais", destacou.

Sobre o abandono dos imóveis, Mendes afirmou que cerca de 20% dos 298 moradores da vila poderão ter de deixar suas casas se não mantiverem o patrimônio em dia.

"Demos prazo até o meio do ano que vem para as adequações. Quem não conservar vai ter de sair", garantiu.

A Prefeitura também contratou empresa para fazer a manutenção dos prédios institucionais, ao custo de R$ 850 mil. "O primeiro a ser reformado é o Castelinho, que já está em obras. O Clube União Lyra-Serrano e o Antigo Mercado serão os próximos", prometeu. 

Secretário quer ampliar viagens de trem

O Expresso Turístico, que voltou a circular em setembro, tem potencial para transformar a Vila de Paranapiacaba. Essa é a opinião do secretário de Gestão de Recursos de Paranapiacaba e Parque Andreense, Eduardo Sélio Mendes, que pretende pedir à CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) para ampliar o número de viagens em 2011.

O trem turístico chega à vila duas vezes por mês, sempre aos domingos. O trajeto é feito a bordo de uma composição fabricada na década de 1950, formada por dois carros de aço tracionados por uma locomotiva totalmente reformada. O percurso de 48 quilômetros, entre Estação da Luz e Paranapiacaba, leva uma hora e meia e é realizado ao longo da atual Linha 10-Turquesa.

Segundo Mendes, quando o Expresso Turístico viaja até Paranapiacaba, o número de visitantes aumenta em 30%. "Não são apenas os passageiros, mas gente que vem à vila de carro e de ônibus apenas para ver o trem chegar. Para muitos, é uma volta ao passado."

Esse passado, porém, precisa ser preservado. Por enquanto, o que o visitante vê é quase como uma cidade fantasma. A Prefeitura promete investimentos para 2011, mas pouco foi feito nos últimos dois anos.

LAR
Os moradores e comerciantes sentem-se esquecidos, mas não pretendem abandonar o local onde muitos nasceram e se criaram. "Aqui é minha casa. Vou continuar porque sempre vai ter um ou outro turista que se interessa pelas belezas naturais dessa terra", garantiu a comerciante Zilda Maria Bergamini, 56.

Dono de outro estabelecimento, Antonio Fernandes, 57, não pensa em deixar Paranapiacaba. "Aqui é minha casa. Eu e alguns vizinhos nos juntamos para reformar o campo de futebol, que foi abandonado pela Prefeitura. Mas sou aposentado e tenho como me virar. E quem não tem, faz o quê?"

Essa é a pergunta que muitos moradores se fazem enquanto os problemas seguem sem solução.




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