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Democracia impera nas repúblicas de estudantes
Christiano Carvalho
Do Diário do Grande ABC
23/02/2002 | 17:42
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  Passar no vestibular não é o único desafio de quem pretende fazer um curso universitário. Muitos se vêem obrigados a procurar um novo lar e se adaptar à vida longe da família por causa da distância da faculdade. Dificuldades que ficam mais evidentes nos primeiros meses de convivência nas repúblicas, destino de milhares de estudantes neste início de ano em todo o país.

“No começo tinha menos liberdade. Ficava com medo de fazer as coisas e incomodar o outro. Mas depois, quando não gostava de alguma coisa, falava”, disse o estudante Sérgio Troy, 20 anos, que é de Sorocaba e cursa o 3º ano de Engenharia Mecânica no Centro Universitário UniFEI (antiga Faculdade de Engenharia Industrial), no bairro Assunção, em São Bernardo. Ele mora há dois anos com Rafael Rodrigues Silva, 19 anos, de Jundiaí, em um apartamento no conjunto de prédios ao lado da UniFEI. “No começo dava aquela solidão”, disse Rafael.

A dupla precisou aprender a preparar a comida e, com o tempo, ficou mais próxima. “Uma vez rompi o ligamento num campeonato. Rafael é que me levou ao hospital. Quando um fica doente, o outro vai comprar o remédio”, disse Sérgio.

Vizinhos deles, os estudantes Daniel Ferratoni e Bruno Franchi Martins, ambos de 19 anos e vindos de Santos, dividem com um terceiro amigo um apartamento. Um dos quartos virou sala de estudo e, o outro, é utilizado para dormir. “Um respeita o outro. Não acende a luz quando tem alguém dormindo.”

Enquanto Sérgio, Rafael, Daniel e Bruno voltam todo fim de semana para suas cidades, Rodrigo Souza Macedo, 22 anos, só visita a família, em Frutal (MG) – a mais de 600 quilômetros da região –, nos feriados.

O mesmo faz Josiane Carvalho Pimenta, 19, que veio de São Tomás de Aquino, também em Minas Gerais, para estudar na UniFEI. “No início achei que não ia agüentar porque sou muito apegada à família”, disse. Josiane divide o apartamento com Sâmela Cristina de Oliveira, 19.

Mais semelhante às repúblicas tradicionais, com banheiros e cozinhas de uso comum, o alojamento do curso de Teologia da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), em Rudge Ramos, São Bernardo, reúne estudantes de diferentes Estados.

“Formamos grupos para fazer o almoço”, disse o aluno do 2º ano Eudson Silva Ribeiro, 20 anos, que deixou Ipatinga (MG) para estudar no período da manhã e trabalhar à tarde na administração da própria faculdade de Teologia. “Foi muito difícil sair de casa. Aqui você aprende a lidar com a diferença”, disse.

O colega João Luiz de Barros Teixeira, 21 anos, do 1º ano, está há apenas 15 dias no alojamento. Ele veio de Barra Mansa (RJ), e acredita que irá se adaptar. De mais longe veio João Batista, 27. Os três dias de viagem que o separam de Campina Grande, na Paraíba, deixaram muita saudade nos primeiros meses. “Depois que nos enturmamos fica tudo em casa.”




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