Um vigilante de Mauá foi morto por integrantes do PCC (Primeiro Comando do Capital). É o que afirmam três das 12 pessoas seqüestradas terça-feira em Mauá a mando da facção criminosa que age nos presídios paulistas. O seqüestro seria uma tentativa de chacina por vingança contra a facção rival CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade), apontada como responsável por três mortes de integrantes do CV (Comando Vermelho) – simpatizantes do PCC – no Presídio José Parada Neto, em Guarulhos, durante rebelião na segunda-feira. Os criminosos que invadiram três casas no Jardim Rosina, em Mauá, na noite do mesmo dia, procuravam Vanderlei Cirilo Pedro, o Bola Sete, líder do CRBC, a irmã dele, Leni Viviane de Oliveira, 37, e seu cunhado e braço-direito, Wagner Inácio Diniz, 43. O grupo tinha a informação de que Bola Sete ainda gozava de saída temporária do Dia das Crianças, mas ele voltara para o Presídio Antônio Souza Neto, em Sorocaba, em 10 de outubro.
Após render 12 pessoas, entre os quais alguns parentes de Bola Sete, os cerca de dez homens encapuzados e fortemente armados fugiram em quatro carros e uma motocicleta. Na Vila Magini, ainda em Mauá, um dos veículos – uma van escolar roubada – quebrou. O vigilante que pilotava uma moto parou para oferecer ajuda e também foi seqüestrado. As testemunhas que depuseram quarta-feira no 1º DP de Mauá disseram que os bandidos decidiram matar o homem ao descobrirem que se tratava de um vigia particular. A execução teria ocorrido próximo a uma casa em construção dentro de uma favela em Ermelino Matarazzo, zona Leste da capital. O corpo da suposta vítima ainda não havia sido encontrado até quarta-feira.
"A van escolar teve um problema mecânico e parou no meio da rua, em um local que depois fomos saber que era na Vila Magini. O pirril (gíria para vigilante particular que usa apito), que estava de moto, parou para ajudar. Não sabia nada o que estava acontecendo. Um dos homens do PCC disse: ‘Você é pirril? Parou no dia errado, na hora errada. Hoje é seu dia de morrer. Com esse seu apito você delata a gente e os nossos irmãos’", afirmou um ajudante de 22 anos, que não terá a identidade revelada, assim como as outras testemunhas.
"Os criminosos jogaram a moto do pirril no meio da rua e o colocaram dentro da van com a gente. Fomos obrigados a cobrir os rostos com as camisas e a olhar para baixo durante todo o trajeto até a casa em Ermelino Matarazzo. Lá, um dos homens disse para seus companheiros: ‘Cadê a faca para matar o pirril?’. Depois ele pegou o vigilante e foi para fora da casa. Alguns minutos depois, esse homem disse para o outro: ‘Irmão, o trabalho está feito. Esse não vai dar mais trabalho’. Quando fomos liberados, não vimos mais o pirril.", afirmou um rapaz de 18 anos.
"Enquanto a gente estava sendo interrogado pelo grupo do PCC, ouvi mais de uma vez um comentando com o outro que havia matado o vigilante. Foi uma maldade sem tamanho", disse outra testemunha levada até a casa em Ermelino Matarazzo.
Apesar das declarações das testemunhas, o nome do vigilante ainda não foi identificado pela polícia, nem o seu corpo encontrado. "Nenhuma pessoa deu queixa ainda do desaparecimento do vigia. Talvez o corpo tenha sido jogado sem identificação em outro lugar ou ele tenha sido liberado com vida. Por enquanto, temos apenas os depoimentos dessas testemunhas", afirmou o delegado-titular do 1º DP de Mauá, José Rosa Incerpi, responsável pelas investigações do caso.
As testemunhas declararam também que os homens do PCC diziam a todo momento que iriam se vingar das mortes em Guarulhos, praticadas pelos coisa (os membros do PCC não pronunciam o nome do grupo rival) e, se ninguém falasse nada, todos morreriam. "Disseram que não teriam dó de matar nem minha mãe, que também estava lá. Um deles falou: ‘Já mandei minha mãe para o inferno, não teria problema de mandar outra’. Escapamos por sorte", disse o ajudante.
Depois de afirmarem exaustivamente que nada sabiam, as quatro vítimas foram liberadas às 4h30. Foram deixadas perto da estação de trem Ermelino Matarazzo. "Na hora de decidir se iríamos viver ou morrer, um deles telefonou de um celular e perguntou o que deveriam fazer. Graças a Deus estamos vivos", disse uma testemunha.
Os criminosos não sabiam que Leni e Diniz, irmão e cunhado de Bola Sete, estavam em outro carro usado pelo bando, uma EcoSport, que havia sido abandonada após confronto com a PM. A ação policial dispersou o grupo e recuperou outros dois veículos usados pelos criminosos, duas picapes, Corsa e Montana. O plano, segundo a polícia, era levar os 12 reféns para Ermelino Matarazzo, identificar os alvos e matá-los. Entre os seqüestrados havia duas crianças, de 8 anos e 8 meses, e a mãe do líder do CRBC, que trabalhava na hora da ação como camareira em um hotel. Eles não apareceram mais no local.
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