Setecidades Titulo Saúde
Frio eleva em 30% a incidência de infarto

Nesta semana, uma pessoa em situação de
rua morreu em Diadema por causa do problema

Vanessa de Oliveira
Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
23/06/2016 | 07:07
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Nario Barbosa/DGABC


Com os dias de frio intenso prometidos por este inverno, o coração fica em estado de alerta. Isso porque, de acordo com pesquisas, nesta estação do ano os índices de infarto podem aumentar em até 30%, principalmente quando a temperatura está abaixo dos 14ºC.

Na noite de segunda-feira, um morador em situação de rua morreu no bairro Taboão, em Diadema, por infarto agudo do miocárdio, segundo informações da Prefeitura. Na ocasião, os termômetros registravam por volta de 12ºC e os colegas da vítima culpam o frio pela morte. Na Capital, neste mês, pelo menos dois moradores em situação de rua morreram em decorrência de infarto.

O presidente da Regional ABCDM da Socesp (Sociedade de cardiologia do Estado de São Paulo) e chefe da Cardiologia do Hospital Dr. Christóvão da Gama, em Santo André, Rogério Krakauer, explica como a exposição ao frio atinge o coração. “Com a temperatura mais fria, há um aumento da contração das artérias, o que amplia a resistência dessas artérias contra o coração. O coração bombeia para jogar sangue nas artérias que, contraídas, têm que fazer isso com mais força. Então, não é à toa o aumento das complicações nesta época do ano.”

Em Mauá, por exemplo, foi observado um aumento de 12% nas internações por infarto, na comparação de janeiro a maio de 2015, com o mesmo período de 2016, marcado por frio mais intenso. No ano passado, o Hospital Nardini, a Santa Casa e as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) da cidade registraram 127 internações por infarto nos cinco primeiros meses do ano, passando neste ano para 143.

Em Santo André, a Secretaria Municipal de Saúde só possui informações até abril. Nos quatro primeiros meses de 2015 houve maior número de atendimentos com pacientes infartados que no mesmo período de 2016: 147 contra 117. Há possibilidade de os números serem maiores a partir de maio, quando os termômetros começaram a baixar no Grande ABC.

Em São Caetano, de janeiro a maio deste ano foram 53 atendimentos, contra 52 no mesmo período do ano passado. As demais prefeituras não retornaram até o fechamento desta edição.

RISCO
Segundo Krakauer, o frio prejudica principalmente grupos mais vulneráveis. “São as pessoas que têm doenças cardiovasculares preestabelecidas, idosos, diabéticos e aqueles que já tiveram complicações anteriores, como insuficiência cardíaca. O fumo, a obesidade e o sedentarismo também são fatores de risco”, aponta.

O especialista lembra que muitas pessoas em situação de rua abusam de bebidas alcoólicas na tentativa de se aquecerem, o que é uma ilusão. “Em geral, eles tomam muito álcool para tentar se aquecer e não comem direito, por isso, têm baixa ingestão calórica. Então, bebendo não estarão se protegendo, mas sim ficando mais expostos”, fala.

Por isso, o cardiologista ressalta que a melhor alternativa é que essa população busque apoio. “Eles devem procurar os abrigos públicos e o serviço de assistência social. É a melhor forma de se protegerem do frio.”

Moradores de rua relatam que pertences são levados

Concentrados em frente à estação de trem de Santo André, moradores de rua reclamaram que seus pertences estão sendo retirados por funcionários da Prefeitura. “O pessoal da Casa Amarela está levando nossos cobertores e colchões. Esse tipo de coisa faz com que a gente não queira ficar no abrigo”, afirmou Paloma Nelon, 33 anos, que mora nas ruas há dois anos.

Luciano da Silva, 31, que está no local há um mês, disse que a prática é comum. “Muitas doações são perdidas.”

A Prefeitura afirmou que a situação não condiz com a atitude dos educadores da abordagem de rua. “Essa população é abordada para aderir a encaminhamento aos abrigos. Os que não aceitam assinam termo de responsabilidade e têm objetos preservados para que não se agrave o risco de estarem submetidos a baixas temperaturas”, disse, em nota. 




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