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O outro extremo do continente
Luciane Mediato
Especial para o Diário
16/06/2011 | 07:15
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Falar sobre um norte-americano que veio se aventurar em terras tropicais parece fugir às regras, já que é comum escutar histórias de brasileiros pelo mundo. Em meio a essa contradição, Michael Kepp lança o livro "Tropeços nos Trópicos - Crônicas de Um Brasileiro Gringo" (Editora Record, 272 páginas, R$ 32,90).

Durante a leitura, surge a dúvida: seria um norte-americano escrevendo sobre o Brasil? Ou um brasileiro escrevendo sobre os Estados Unidos? Michael Kepp transcende fronteiras geográficas. Ele fugiu da cidade natal, St. Louis, que classifica comoclaustrofóbica, em busca de mais ginga e malemolência. E veio parar no Rio de Janeiro de Tom Jobim, do Carnaval, da descontração carioca. Suas experiências ganham cor em crônicas ora cômicas, ora comoventes.

"Estava desesperado, cansado da cultura do tempo é dinheiro. Os Estados Unidos tinham se tornado sufocantes para mim. Andava tão desesperado, mas tão desesperado, que até a Groenlândia começou a parecer atraente. Aos 33 anos comprei uma passagem só de ida rumo ao Brasil, planejava fazer dessa terra minha casa", lembra o autor.

Mike, como ele prefere ser chamado, revela intimidades ao leitor: a hipocondria, o derrame, o acordo subentendido com sua mulher brasileira sobre quanto tempo, nas festas, eles podem falar com desconhecidos do sexo oposto, a primeira visita ao túmulo da mãe 48 anos depois da morte dela.

"Fazer uma mudança como a minha exige um certo nível de desprendimento emocional e material. Eu não sabia falar português direito e não tinha emprego aqui. Simplesmente me joguei na tentativa de ter uma vida melhor. Mas a dica que dou para quem quiser viver essa experiência é que se case ou tenha um relacionamento com alguém, porque tudo fica mais fácil", diz.

Esse "gringo brasileiro", suspenso na fronteira entre duas nacionalidades, também observa as diferenças culturais entre elas. Nessa corda bamba, Mike compara tudo, da etiqueta ao telefone até os hábitos alimentares, passando pela relação com o dinheiro e trabalho, e a atitude para com família e amigos.

No livro, ele não faz só elogios e observações ao Brasil também faz críticas. Em uma das crônicas ele traça paralelo entre os jovens de classe média brasileiros e os "yankees". Michael contesta o estilo de vida nacional em que os filhos demoram a sair de casa e se recusam a trabalhar como garçons, recepcionistas, entre outros. "Não. Ser polêmico é como ser vulnerável, faz parte da minha natureza. E eu divido minhas críticas, como meus elogios, entre os dois países. Eu prefiro morar aqui do que nos Estados Unidos; prefiro o povo brasileiro ao povo norte-americano. Mas, as duas culturas e os dois povos merecem críticas e elogios".




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