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Mercedes diz que renovação do PPE perdeu utilidade
Marina Teodoro
Especial para o Diário
29/04/2016 | 07:02
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André Henriques/DGABC


Hoje, todos os 9.800 funcionários da sede da Mercedes-Benz, em São Bernardo, estão com emprego garantido pelo PPE (Programa de Proteção ao Emprego). A montadora, porém, descarta a renovação do programa, que reduz em 20% a jornada de trabalho e em 10% os salários – já que o governo banca os outros 10% –, e que vence em 31 de maio.

De acordo com o presidente da Mercedes-Benz para a América Latina, Philipp Schiemer, o PPE “perdeu a utilidade” para a montadora. “Essa é uma ajuda temporária, e aplicamos durante quase um ano (desde setembro), mas não resolvemos o problema. Isso significa que precisamos encontrar novas alternativas”, declarou o executivo durante o evento de comemoração dos 60 anos da montadora no Brasil – e na região, onde aportou em 1956.

Apesar da celebração, o momento não é dos mais favoráveis para o setor. Conforme a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição dos Veículos Automotores), a venda de caminhões teve queda de 32,8% no primeiro trimestre ante o mesmo período de 2015, enquanto que o comércio de ônibus apresentou tombo de 47,6%.

Schiemer revelou que está em negociação com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para chegar a uma solução para os trabalhadores. Mas, por enquanto, disse que não há uma previsão para resolução dessa situação. Apesar de não comentar sobre possíveis demissões, ele afirmou que a fabricante possui excedente de 2.000 empregados.

EXPORTAÇÕES - O presidente da Mercedes também afirmou que a empresa está negociando exportar para o Irã. O governo brasileiro está intermediando processo de vendas de 65 mil caminhões e 17 mil ônibus de companhias brasileiras. Entretanto, ao seu ver, essa não será alternativa que possa salvar a montadora do atual cenário econômico nacional. “Vamos fazer o possível para participar dessas exportações, mas esse não será um milagre que vai nos tirar da crise, até porque, no início, a produção para essa operação deverá ser pequena.” analisou Schiemer. Segundo ele, neste ano a Mercedes deverá exportar 25% da produção, enquanto no ano passado esse percentual era de 15%. Mesmo com a ampliação, o mercado da companhia depende essencialmente do mercado interno. Situação diferente de outra fabricante instalada em São Bernardo, a Scania, em que 70% dos caminhões e ônibus são exportados – o que deixa a empresa em situação menos problemática diante da turbulência.

CRISE CASEIRA - Ao comentar sobre os rumos da economia no País, o executivo atribuiu a culpa de momento instável e inseguro aos problemas políticos. “É uma crise caseira e desnecessária. Enquanto todo o mundo cresce, o Brasil recua no PIB (Produto Interno Bruto). Isso é reflexo de política inadequada nos últimos anos.” Para Schiemer, não adianta somente a montadora se mobilizar para sair da crise. “O País também precisa fazer alguma coisa.”


Aos 60 anos, montadora alemã faz história na região

Com 60 anos de história, a Mercedes-Benz marcou a região quando, em 28 de setembro de 1956, inaugurou sua sede brasileira em São Bernardo. A fábrica da Vila Pauliceia foi palco para a produção do primeiro caminhão em território nacional, e o lançamento do veículo contou com a presença do então presidente Juscelino Kubitschek.

A unidade são-bernardense é a maior do Grupo Daimer (que detém outras marcas, como a Smart) para a produção de veículos da Mercedes fora da Alemanha. Além disso, ela é a única planta da companhia a reunir, num mesmo local, a produção de caminhões (Atego, Atron e Axor), chassis de ônibus urbanos e rodoviários e agregados (motores, câmbios, eixos e cabinas de caminhões).

A chegada da Mercedes na região contribuiu para o crescimento do município. Quando abriu as portas no Grande ABC, São Bernardo tinha 50 mil habitantes, hoje esse número atinge quase 800 mil. Ao longo desses anos, chegou a empregar 100 mil pessoas.

Outro feito da montadora na região é o Centro de Desenvolvimento Tecnológico da fábrica em São Bernardo, que é o maior da América Latina, “Aqui são desenvolvidos, entre outras coisas, chassis para o mundo inteiro, por uma equipe de mais de 600 engenheiros”, destacou o presidente da montadora, Philipp Schiemer.

Até 2018, serão investidos R$ 730 milhões nas fábricas de todo País (Campinas e Iracemápolis, no Interior, e Juiz de Fora, em Minas Gerais). No Grande ABC, a novidade será a produção do novo Atego, caminhão de médio porte, no segundo semestre.

INOVAÇÃO - Para celebrar o aniversário, a Mercedes apresentou durante o evento que aconteceu ontem, pela primeira vez no Brasil, caminhão com piloto automático.

De acordo com a fabricante, o veículo é o que se tem de mais tecnológico no setor, podendo reduzir as emissões de poluentes em 5%, além de otimizar todo o processo de logística, muito utilizado pelas transportadoras.

Apesar de esse modelo sem motorista no comando já estar sendo testado na Alemanha desde o ano passado, o presidente afirma que a tecnologia será trazida aos poucos para o Brasil. Segundo Schiemer, porém, para viabilizar sua produção, serão necessários melhores condições nas estradas e sinalização de trânsito, demanda e incentivo do governo.
 




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