Juventude estreia nesta quinta, 31, nos cinemas brasileiros. Sorrentino era um grande diretor, ou pelo menos parecia mais interessante em filmes que fez com o ator Toni Servillo, como As Consequências do Amor, O Amigo da Família e O Divo. É curioso que Servillo, grande ator que é, nunca tenha sido premiado em Cannes, por mais complexos e fascinantes que sejam os papéis que Sorrentino tem lhe oferecido - O Divo, por exemplo, é a cinebiografia de Giulio Andreotti, um dos mais carismáticos (e polêmicos) políticos da Itália. Juventude passa-se num spa, numa clínica para rejuvenescimento de gente muito rica. Em Cannes, Sorrentino disse que não são o dinheiro nem o culto do corpo lhe interessam, mas a condição do artista. "Meu spa reúne grandes artistas, artistas decadentes, artistas em xeque, em crise. Artistas e políticos estão sempre tirando as pessoas do sério com suas provocações. Se o grande artista tem de ser político e estar inscrito em seu tempo, o político também é uma espécie de artista. Ambos usam máscaras, como no teatro. Veja o exemplo de Andreotti, il divo."
Talvez o problema maior de Sorrentino seja sua consciência de, como artista, possuir um estilo. Quando filmou no Brasil - numa praia carioca - seu episódio de Rio Eu Te Amo, o repórter pôde vê-lo em ação. Sorrentino é daqueles que têm o filme pronto na cabeça. Filmar, para ele, como dizia Alfred Hitchcock, o mestre do suspense, "é passar o roteiro pela câmera". Só que o estilo de Sorrentino parece cada vez mais derivado de Federico Fellini. A Grande Beleza lembrou a muita gente A Doce Vida, revisto e atualizado. Como Fellini, Sorrentino tem um estilo muito visual. Gosta de encher a tela de figuras bizarras e composições tão plásticas quanto estudadas. A questão é sempre o que há por trás dessa ?aparência?.
Ele contou a gênese de Juventude. "Venho de uma cidade pequena, onde as pessoas tendem a ser humildes. E sempre me impressionou muito a história que li, sobre um músico inglês que se recusou a tocar para a rainha. Isso seria inconcebível na minha cidade, essa contestação tão visceral da autoridade. Essa história regurgitou anos na minha cabeça. E, finalmente, resolvi vomitá-la. Talvez deva dizer - consegui vomitá-la. Porque não conseguiria fazer Juventude sem Michael (Caine), Harvey (Keitel) e Jane (Fonda). Precisava desse grande elenco. Nesse sentido, tenho de admitir que o Oscar (que alcançou por ?A Grande Beleza?) me ajudou muito."
Caine e Keitel criaram seus personagens em conjunto com o diretor. Jane Fonda, ele admite que já era a diva que tinha em mente. "Ela só teve de passear pela câmera", riu. Sobre o visual do filme, Sorrentino colocou em palavras o que o repórter sentiu no set de Rio Eu Te Amo. "Antes, eu trabalhava muito com storyboard. Continuo desenhando as cenas, mas cada vez mais isso é só um exercício prévio. O tempo e a experiência contam alguma coisa e hoje, ao chegar ao set, defino a posição da câmera na hora, sem me preocupar muito com o que havia planejado. O segredo do planejamento é dar segurança para que a gente improvise."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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