Além de exímio pianista, arranjador e compositor, o maestro Laércio de Freitas é conhecido no meio musical, principalmente do choro, pela criatividade, mas também pelo senso de humor. Ele diz que a música é como uma mulher e o arranjo é a roupa. “A primeira providência é criar um modelo confortável para que ela não precise mudar o jeito de caminhar”, explica. Foi isso que ele fez com a música de um mestre do choro, no excelente CD Laércio de Freitas Homenageia Jacob do Bandolim (Maritaca), tendo o jovem prodígio Alessandro Penezzi como acompanhante. Piano e violão duelam ainda com mais garra ao vivo, hoje e amanhã no Auditório Ibirapuera.

Freitas conta que se entendeu logo de cara com Penezzi, que, como ele, já era bem familiarizado com a obra de Jacob. O que eles fizeram foi costurar o vestido da mulher música “com tecidos que não havia no tempo de Jacob, valorizando a forma e o conteúdo”. “Dada a existência da obra de Jacob, não precisamos elaborar nada. Só fizemos umas curvas que ele não tinha feito, mas fez outras”.

Para isso, Freitas escolheu obras pouco regravadas de Jacob – Ginga do Mané é uma das mais conhecidas –, o que tem um sabor extra de ineditismo. O ‘duelo’ de Freitas com Penezzi impressiona não só pelo virtuosismo,mas pela nitidez de expressão, entendimento e respeito mútuo. “Simbiose é a palavra”, arremata Freitas, que não poupa elogios ao parceiro. “Ele me chamou a atenção por ser muito fluente no discurso e pela assertiva de idéias. É um músico muito preparado.”