Cultura & Lazer Titulo
Chico Buarque veta uso de sua música em filme sobre FHC
Do Diário do Grande ABC
26/05/2000 | 15:32
Compartilhar notícia


O cantor e compositor Chico Buarque vetou a utilizaçao de trecho da sua música "O Que Será?" no filme e na vídeo-instalaçao "Pessoas do Brasil", de Tadeu Jungle e Carlos Rennó, produzidos especialmente para serem exibidos na mostra Expo 2000, de Hannover, Alemanha. A exposiçao será aberta no dia 1º e os produtores tiveram de reeditar o filme às pressas para enviá-lo àquele país.

Chico Buarque avisou que nao permitiria o uso, em telefonema a Carlos Rennó, co-diretor do filme e autor do roteiro e da trilha sonora (esta em parceria com Ruriá Duprat). Segundo Rennó, Chico disse que nao está satisfeito com o governo Fernando Henrique Cardoso e que nao deixaria que sua obra fosse associada de alguma maneira à sua gestao.

"Eu digo sim ao nao do Chico", afirmou Rennó, concordando com o protesto. "Ele nao quer fazer algo que tenha a participaçao do governo e que vá contar com a presença do presidente e do filho do presidente", afirmou o diretor. A alusao ao "filho do presidente" é elucidativa: Paulo Henrique Cardoso foi acusado recentemente de ter sido beneficiado pelo pai com verbas mais do que generosas para o pavilhao do Brasil em Hannover.

"O Chico alega que nao é bem tratado pelo governo, o que é verdade: o presidente declarou que nao gosta mais de Chico Buarque porque acha que ele está se repetindo artisticamente", ponderou. "Seria um contra-senso se o governo resolvesse usar algo que considera ter redundância artística", teria dito Chico Buarque. "Se o compositor prefere assim, eu fico feliz em retirar a participaçao dele", afirmou Rennó.

A reportagem entrou em contato com a Assessoria de Imprensa de Chico Buarque, mas o compositor nao comentou o caso. A cena que tem como base a música de Chico Buarque mostra dois casais cantando os versos "O que nao tem governo nem nunca terá/o que nao tem vergonha nem nunca terá/o que nao tem juízo". Na nova ediçao do vídeo, o som foi suprimido e mostra apenas os casais com as bocas se mexendo, cobertas com tarjas. Na vídeo-instalaçao, a cena toda foi cortada. "Pensamos em usar outra música, mas nada cabe: ou é o Chico ou ninguém", diz Tadeu Jungle.

Segundo Jungle, Chico "é Deus e está coberto de razao". Segundo ele, a idéia era homenagear o cantor, incluindo-o numa galeria que tem ainda nomes como Mário de Andrade e Machado de Assis. "Mas nao vai ser possível, entao paciência", afirmou. Segundo ele, Chico nao foi encontrado quando eles estavam montando o vídeo para dar autorizaçao por que estava em Cannes, promovendo o filme "Estorvo", de Ruy Guerra.

"Pessoas do Brasil" dura 16 minutos e parte de depoimentos de brasileiros anônimos para construir sua tese. "Meu amigo, por favor, chega mais: estamos fazendo um vídeo pra mostrar o Brasil pros estrangeiros, vai passar na Alemanha e a gente gostaria que você participasse", diz o roteiro. A partir daí, dezenas de brasileiros mandam mensagens para os alemaes, do tipo "Hello, Hannover" ou "E aí, alemao?" ou "Vundabar!" (maravilha em alemao).

A Academia de Filmes, produtora da vídeo-instalaçao, vai trabalhar em Hannover com nove monitores de plasma colocados em linha, a 1,60 m do chao, "formando um rio de imagens". Entre outras cenas, há uma montagem que mostra nove pessoas cantando em português versos diferentes da música brasileira mais conhecida no mundo: "Garota de Ipanema". O especial mostra também diferentes maneiras de o brasileiro dançar, ao som de diferentes ritmos, como samba, funk, forró, valsa, samba-de-roda e techno.

Em outro bloco, mostra-se 30 segundos da música "Inclassificáveis', de Arnaldo Antunes, que ilustra uma idéia de mistura racial. Negros, brancos, índios, mamelucos e loiros cantam juntos, fazendo uma segunda voz. "Crilouros guaranisseis e judárabes/orientupis orientupis", diz a cançao. Uma freira, um Hare Krishna, um judeu, uma mae-de-santo e um pregador evangélico dançam um ponto de umbanda.

Depois, há um "povo fala", no qual populares tentam escalar a Seleçao Brasileira de futebol. "No gol, Dida; na lateral Cafu; miolo de zaga, Flávio Conceiçao...." Há citaçoes de trechos de autores sobre o Brasil.

De Darci Ribeiro: "O que somos é a nova Roma. Uma Roma tardia e tropical. Estamos nos construindo na luta para florescer amanha como uma nova civilizaçao, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela e luminosa província da Terra."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;