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Filme coletivo sobre a infância desamparada comove Veneza
Da AFP
02/09/2005 | 13:04
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Crianças soldados, pequenos ladrões, meninos de rua, filhos da Aids, órfãos e abandonados são os protagonistas do mundo invisível denunciado, em Veneza, pelo filme coletivo de oito cineastas, entre eles Emir Kusturica, Spike Lee e a documentarista brasileira Katia Lund.

Promovido pelo Unicef e o Programa Mundial de Alimentos, "All the Invisible Children" (Todas as Crianças Invisíveis) narra em sete episódios de 15 minutos de duração cada a dor e o sofrimento de crianças de diferentes culturas e continentes.

Apresentado fora de competição no Festival de Veneza, o filme, que chegará aos cinemas em dezembro, terá o lucro destinado aos programas de ajuda para o desenvolvimento.

"Acredito que o cinema deve ter uma função cultural e, como no passado, quando as pessoas se reuniam para ver uma tragédia, deve alimentar a sabedoria", afirmou Kusturica, autor de "Blue Gipsy", sobre a vida de Uros, um bósnio condenado a roubar pelo pai alcoólatra, que o castiga com garrafadas na cabeça em caso de desobediência.

Os episódios, filmados livremente e segundo o próprio estilo por Spike Lee, John Woo, Kusturica, os irmão John e Ridley Scott, Katia Lund, o argelino Mahdi Charef e o italiano Stefano Veneruso, foram duros e intensos e, ao mesmo tempo, oferecem momentos de otimismo pela força com a qual todas as crianças tentam escapar da própria condenação.

Se ao nascer na África se corre o risco de virar um menino soldado, como Tanza, 12 anos, nascido em Burkina Faso, protagonista do episódio narrado por Charef, crescer no coração do país mais poderoso do mundo, no bairro do Brooklyn, em Nova York, tampouco garante um futuro melhor, como acontece com Blanca, uma adolescente latino-americana soropositiva, que descobre a doença por meio das gozações das colegas de escola.

"As crianças são cruéis e quis apresentá-las assim", admitiu Spike Lee, que decidiu dar um final positivo à história, pois a jovem passa a integrar um grupo assistido por psicólogos como terapia.

A fantasia, a alegria e a inocência da infância brilham na história apresentada pela brasileira Katia Lund, co-diretora de Cidade de Deus, de Fernando Meirelles. Dois meninos de rua de São Paulo, Bilu e João, recolhem lixo, lata e papel para vendê-los e assim realizar o sonho de construir a própria casa. "Quis dar um aspecto novo à força e ao heroísmo desses jovens, a suas vidas, nas quais misturam diversão, aventura e luta extenuante", afirmou a cineasta.

A mesma esperança de um mundo melhor é compartilhada por duas meninas chinesas na história do diretor John Woo, que pela primeira vez filmou na China. Com o rápido crescimento do país e a maior distância entre ricos e pobres, muitas crianças foram abandonadas, argumenta o cineasta, que narra uma fábula com bonecas de meninas ricas e flores vendidas por órfãs pobres e abandonadas.

"São exploradas, maltratadas e, no entanto, mantêm a dignidade, não querem esmola, se resignam ao destino sem perder a esperança em uma vida feliz", comentou Woo, ao resumir o fio condutor dos episódios.




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