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Um dia nas obras do Rodoanel
Tiago Dantas
Do Diário do Grande ABC
24/01/2010 | 07:25
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Uma fila se forma na saída do refeitório em um terreno do Jardim Los Angeles, São Bernardo, pouco antes das 8h. São cerca de 800 operários que trabalham na construção do Rodoanel Mário Covas esperando para bater o ponto e começar a trabalhar.

A obra, prevista para ser entregue em 29 de março, já entrou na fase final. O Diário acompanhou, terça-feira, a atividade no lote 3 e ouviu histórias de quem está erguendo a rodovia e, provavelmente, será esquecido após a inauguração. "Na placa vai o nome dos engenheiros, mas quem fez isso aqui fomos nós", diz o operador de patrol Xeleléu, 53 anos, que não revelou o verdadeiro nome.

Como o volume de trabalho está diminuindo, alguns funcionários já foram dispensados. No lote 3, administrado pelo consórcio Queiroz Galvão/CR Almeida, por exemplo, 70 pessoas fizeram exame demissional esta semana - o que não significa, necessariamente, tristeza.

"Peão às vezes gosta de ser mandado embora porque pega a rescisão e vai pra outro lugar. Quem quer trabalhar acha emprego", diz o pedreiro Joacir Mendes, 34, que ficou seis meses no Rodoanel. Quem está no ramo, gosta do que faz. É o que ensina o carpinteiro Carlos Roberto de Magalhães, 47.

"É muito sofrido, o descanso é pouco. Mas se tem vida fácil, ela não dura muito tempo", afirma. Parte do sofrimento do carpinteiro passa por pegar cinco conduções para ir de Itaquaquecetuba (Grande São Paulo) para São Bernardo. "Saio de casa às 3h30 e só chego às 21h."

Carlos não é o único que sai cedo de casa. A rotina no canteiro de obras do Rodoanel começa às 7h com o café da manhã, servido no refeitório. Após bater o ponto, os trabalhadores se agrupam para ouvir as instruções do dia. Os trabalhadores da mecânica aproveitam a oportunidade para rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria.

Ao meio-dia, o trabalho é interrompido para o almoço. No cardápio, arroz, feijão, salada, um tipo de carne e suco. Os pratos são montados com fartura e levam pouco tempo para serem devorados. Terminada a refeição, os operários voltam para o barro, o sol, a chuva e as máquinas. Quando o relógio marca 17h, cada um ruma para sua casa - ou alojamento, no caso de quem é de outro Estado. É hora de descansar. Pelo menos até que chegue o outro dia, e os trabalhadores formem fila para bater ponto de novo às 8h.

Trabalhadores já construíram Aeroporto e Expresso Tiradentes

Entre os operários do Rodoanel, há gente que trabalhou na construção do Aeroporto de Cumbica, em 1985, em Guarulhos, nas obras do Expresso Tiradentes, em 2006, na Capital, e na duplicação da BR-101, ano passado, em Santa Catarina.

O sinaleiro de guindaste Valdomiro Pereira de Souza, 30 anos, o Bahia, ajudou a construir o corredor de ônibus em São Paulo, por exemplo. Ele chegou ao canteiro de obras do Rodoanel há dois anos e sete meses. "Passei por todas as partes da construção", afirma.

Bahia foi um dos operários que ajudou a erguer a ponte de 1.750 metros sobre a Represa Billings, tida como um dos pontos mais delicados do projeto. Até o fim de dezembro, Valdomiro frequentou as aulas dadas dentro da obra para completar o Ensino Fundamental.

A oportunidade de estudar também chamou a atenção do operador de rolo Jamyson Valter, 26, que foi chamado para a construção pelo pai. "Cheguei aqui como ajudante. Fiz o curso de operador de rolo e já estou trabalhando com isso", afirma.

Assim como Jamyson, que mora em Santo André, 20% dos trabalhadores do Rodoanel vivem na região. "É uma oportunidade para quem é da comunidade", diz Marcos Rodrigues de Souza, 35, encarregado geral, conhecido como prefeito da obra, que vive em São Bernardo.




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